Bemdito

Se Paulo Freire fosse professor hoje, como seriam as aulas online?

No ano em que completaria 100 anos, educador estaria orgulhoso de professores que, nesta pandemia, insistem no saber, no diálogo e no amor
POR Ivna Girão

No ano em que completaria 100 anos, educador estaria orgulhoso de professores que, nesta pandemia, insistem no saber, no diálogo e no amor

Por Ivna Girão
ivnanilton@gmail.com

Como seriam as aulas online, em tempos de pandemia, se Paulo Freire fosse o professor? Aguentaríamos melhor essa desventura de horas e mais horas na frente de uma tela de computador, tentando absorver conteúdos e sobreviver à fadiga? Não sei. Mas, acredito que cada professor(a), nos desafios vividos, celebra hoje os saberes do nosso Patrono da Educação Brasileira que, em 2021, faria 100 anos. Paulo Freire segue vivo em cada um que tenta, nas delícias e loucuras do ensino remoto, seja nas faculdades ou nas escolas, encantar alunos(as) para o conhecimento. Em cada frase “liguem as câmeras, meninos, participem” é uma voz de Freire animando corações e almas para o saber e o afeto. Na Pedagogia da Indignação, ele nos ensina mesmo é a Pedagogia da Esperança, em acreditar que dias melhores virão. E “batam palmas para eles”, que nossos educadores merecem!

Para celebrar os 100 anos de Paulo Freire, o Porto Iracema das Artes, uma instituição da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, dá continuidade às ações da segunda edição do projeto II Paulo Freire a Bombordo – Centenário, com encontros mensais dedicados a revisitar a obra do educador brasileiro. Em Relendo Paulo Freire: Pedagogia da Indignação, cada dia 19, até setembro deste ano, vai contar com um momento online, aberto à participação do público, para ler e discutir trechos do livro com pesquisadores, educadores, artistas e participantes que conversam com a obra do Patrono da Educação Brasileira. Neste mês, a leitura conjunta será do capítulo Do espírito deste livro. A atividade acontecerá ao vivo na plataforma Zoom, com limite de 100 pessoas, e também será transmitida no Canal do YouTube da Escola a partir das 18 horas aqui.

O Céu de Tia Dani
Tenho três filhos, dois em idade escolar. Imaginem a maratona aqui em casa, e na de tantas mães que seguem com home office, aulas remotas, louças na pia, poucas alegrias e quase nada de saúde mental em difíceis tempos de pandemia. Trabalho, no computador na sala, ao lado de Bento e Maria – faço companhia e ainda observo os ânimos para seguir, em mais um ano, de ensino à distância. Tem dias e dias. Alguns dão certo, em outros, o papoco pega geral, todos gritam: desliguem o “meet”! E esbravejam: “quero aula online, não”. Entendo, converso, aceito, insisto. Mas tem um tanto de beleza que acaba convencendo a meninada a prosseguir. O Céu da Tia Dani – professora do Bento, Daniele de Sousa, que é educadora do 5º ano da Escola Vila – foi um bonito convite: na intenção de estudar geografia e galáxias, pontos cardeais, ela abriu um site e fez uma viagem espetacular com a turma, entre estrelas e via lácteas, tornou a alegria menos nebulosa. Em outra aula, pediu que as crianças brincassem com o Google Earth e Bento me chamou, radiante com um sorriso no rosto, apresentando os seus novos amigos pinguins, que tinha conhecido na Patagônia. E, assim, bato palmas para a Tia Dani.

Os pimentões de Tia Dadá
Com minha filha menor, os desafios do ensino online são maiores. Com oito anos, ela se interessa mais em brincar de bola no jardim com o irmão mais novo do que acompanhar a disciplina. Disputar com o “quintal” é realmente uma tarefa bem árdua. Mas nada que Paulo Freire e Tia Dadá – Aldaída Reis, professora da Maria, educadora do 3º ano da Escola Vila – não se sintam desafiados. E, numa beleza sem fim, Tia Dadá transporta suas aulas para a horta que ela cultiva em casa. Na intenção de ensinar sobre fotossíntese e ciclo do nitrogênio, ela apresenta o crescimento do seu pimentão e põe a mão na terra num cultivo bonito que aduba saber com fazer e crescer, ensinando biologia, mas também agricultura e alegrias, espalhando pimentões em cada menina e menino, florescendo afetos e cuidados. E, assim, bato palmas para a Tia Dadá.

Acho que Paulo Freire, no seu mundo encantado entre livros e uma sombra de árvore lá no céu, está bem feliz e orgulhoso de cada professor e cada professora que insiste no saber, no diálogo, no amor – e ainda no valor da vida, da ciência, da saúde, num distanciamento difícil de aprender. Mas só assim é possível sobreviver. Para adiar o fim do mundo, é necessário plantar amor para que cada casa, de cada aluno, vire o maior quintal possível.

Ivna Girão é jornalista e Coordenadora de Comunicação da SECULT. Está no Instagram.

Serviço
Cartas para Paulo Freire
As cartas devem ser enviadas para cartasparapaulofreire@gmail.com. Ao final da ação, em setembro, será feita uma leitura dos escritos

Amar é um Ato de Coragem
Confira concerto realizado ao vivo pelo Madeira Trio, com participação de Larissa Goes, além de uma primeira leitura do livro Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. Assista à apresentação Amar é um Ato de Coragem.

Para ver o Céu de Tia Dani
Acesse este site.

Acompanhe o crescimento dos pimentões de Tia Dadá:
Acompanhe no Instagram.

Ivna Girão

Jornalista, historiadora e escritora, é coordenadora de comunicação da Secretaria de Cultura do Ceará.