Bemdito

Lula em reunião de forças políticas

Petista reúne esforços para traduzir sua força, apontada nas pesquisas, em alianças eleitorais e governativas
POR Monalisa Soares

À parte os debates políticos e intelectuais sobre polarização e a necessidade de superá-la, a dinâmica política vem evidenciando um cenário marcado pela preponderância da disputa em torno de Lula e Bolsonaro. As pesquisas realizadas indicam a vantagem numérica do petista sobre o atual presidente no primeiro e no segundo turnos. O severo desgaste vivido por Bolsonaro em face da pandemia e do cenário econômico tem intensificado sua baixa aprovação e ampliado a margem de vantagem do ex-presidente.

Em termos de popularidade digital, o petista também mantém vantagem, ainda que bem menor, em relação a Bolsonaro (60,3 x 52). Tendo conquistado a dianteira no Índice de Popularidade Digital (IDP) no final de 2021, após seu tour pela Europa, o ex-presidente manteve-a neste início de ano. O índice é uma medida acompanhada pelo Instituto Quaest, que, usando dados do Facebook, Instagram e Twitter, compara a performance das personalidades políticas nas redes sociais. É relevante notar que tal manutenção da liderança de Lula também correspondeu à queda de prestígio de Bolsonaro por manter suas férias em meio a tragédia das enchentes na Bahia.

Fato é que Lula, embalado pelas boas perspectivas, vem pondo em marcha suas estratégias para reunir forças em torno de sua candidatura. Alguém pode se perguntar: por que tanto empenho em reunir forças por um (pré)candidato que está “disparado com folga” nas pesquisas?

Diante de tal indagação, destaco que se faz necessário traduzir essa força eleitoral apontada pelas pesquisas de intenção de voto em capacidade institucional de formar alianças eleitorais e também para o futuro governo. 

Nesse sentido, desde o fim do ano passado, a principal movimentação envolve a aproximação do centro político e ocorre em torno da ideia de fazer de Geraldo Alckmin o vice na chapa presidencial. Apesar dos ruídos gerados em setores da esquerda (no PT e entre potenciais aliados como o PSOL), Lula vem dando indícios de que a aliança é mais que esperada. Em entrevista a uma rádio, repercutida na imprensa, o ex-presidente afirmou que o vice será um “contraponto ao PT” e que, a despeito de estar conversando com muitas forças políticas, aguarda a definição de filiação partidária de Alckmin.

A possibilidade de uma chapa com o ex-tucano, portanto, aproximou Lula ainda mais da imagem de representante genuíno da frente ampla, posição que busca desde que recuperou os direitos políticos. Em dezembro passado, na Cerimônia de entrega do Troféu Perseverança ao ex-presidente pelo Grupo Prerrogativas, estiveram presentes lideranças políticas de vários partidos e frentes programáticas e ideológicas, entre eles: Orlando Silva e Jandira Feghali (PCdoB), João Campos, Paulo Câmara Marcelo Freixo e Alessandro Molon (PSB), Arthur Virgílio Neto (PSDB), Rodrigo Maia (sem partido), Gilberto Kassab e Omar Aziz (PSD) e Randolfe Rodrigues (Rede). 

Na ocasião da entrega do Troféu, ao lado de Alckmin, Lula enfatizou a necessidade das alianças e da frente ampla: “O grave momento que atravessa o Brasil não dá a nenhum de nós o direito de desistir. É hora de perseverarmos juntos, para restaurar a democracia e reconstruir este país. Não é tarefa para uma pessoa sozinha. É um trabalho coletivo. Não importa se no passado fomos adversários. Se trocamos algumas botinadas. Se no calor da hora dissemos o que não deveríamos ter dito. O tamanho do desafio que temos pela frente faz de cada um de nós um aliado de primeira hora”.

Chegado este ano decisivo, o petista tem buscado os potenciais aliados para formalizar as intenções, consolidar as afinidades e acordar a manutenção do discurso antibolsonarista como a tônica fundamental da eleição de 2022. Nesse sentido, apenas em janeiro, Lula reuniu-se com Aloysio Nunes (PSDB), Randolfe Rodrigues (REDE), Flavio Dino (PSB), Renan Calheiros e Renan Filho (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL).

As reuniões com Aloysio Nunes e Guilherme Boulos destacam-se em virtude da representatividade para a estratégia mais geral de reunião de forças políticas. No caso do tucano, porque envolve a aproximação com opositores históricos, na tentativa de construir pactos futuros. Já com o psolista, o diálogo contribui para distensionar a relação, pois Boulos criticou publicamente, em diversas ocasiões, a possibilidade da chapa Lula-Alckmin. Desse modo, o petista vai equacionando a necessidade de avançar alianças com o centro sem necessariamente comprometer suas relações com a esquerda.

Cabe destacar que a rodada de conversas de Lula, no entanto, não contribui exclusivamente para a composição de forças em torno de sua candidatura e de um futuro governo. O ex-presidente também tem mobilizado a dimensão simbólica da interlocução política como diferencial de sua imagem em relação a Bolsonaro. Em entrevistas e postagens nas redes sociais, o petista tem afirmado a necessidade de um presidente dialogar, articular com partidos e lideranças. Segundo Lula, “Bolsonaro se rendeu. Ele entregou para a Câmara cuidar do Brasil”. A frase atesta, além da omissão, a incompetência do presidente. Lula atua também numa estratégia evidente de desconstrução da imagem do opositor. 

Monalisa Soares

Doutora em Sociologia e professora da UFC, integra o Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia e se dedica a pesquisas na interface da comunicação política, com foco em campanhas eleitorais, gênero e análise conjuntura.