Lula, o favoritismo e as estratégias para 2022
O tour de Lula pela Europa na última semana gerou inúmeras discussões nas redes sociais, entre elas sobre a cobertura midiática e como se definem seus critérios de noticiabilidade. Alguns questionamentos foram motivados pela baixa cobertura realizada à viagem do ex-presidente em contraste com a profusão de matérias sobre a entrada de Sergio Moro na disputa eleitoral e sobre a realização das prévias do PSDB.
Os internautas destacaram a expressividade da intenção de votos de Lula em comparação aos demais pré-candidatos, o que gera expectativa para a visibilidade de suas atividades. Após o burburinho nas redes, tanto os telejornais quanto a mídia impressa deram atenção à viagem do ex-presidente.
O giro de Lula pela Europa trouxe também impactos para o enredo da disputa de 2022. De imediato, e este foi o tom de muitas reportagens e comentários jornalísticos, pode-se estabelecer uma comparação entre sua capacidade diplomática e a do presidente Bolsonaro. Os encontros do ex-presidente com Emanuel Macron, presidente francês, Pedro Sanchez, primeiro-ministro espanhol, e Olaf Scholz, futuro chanceler alemão, dimensionam a estatura das relações construídas por Lula.
No Brasil, a viagem do petista pareceu mobilizar certo saudosismo pela respeitabilidade brasileira perante os líderes internacionais. O ex-presidente, habilmente, buscou não se colocar como o centro das atenções. Em postagem, em suas redes sociais, sobre a viagem aos países europeus afirmou: “Essa viagem que fiz pela Europa foi uma tentativa de provar ao povo brasileiro que o mundo gosta do Brasil. Não tenho palavras pra agradecer todos que me receberam tão bem. Mas não é o Lula que é importante, é o Brasil que é necessário ao mundo”.
A despeito do discurso de Lula, alguém imagina outro pré-candidato brasileiro recebendo as mesmas honrarias que o ex-presidente? Fato é que o petista desfruta de uma imagem internacional positiva em virtude das realizações de seu governo. A consagração da parcialidade de Moro pelo STF no seu julgamento e o desastroso governo Bolsonaro só ajudaram a melhorar tal imagem.
É relevante destacar que o tour pela Europa também significa mais um passo de Lula na construção de sua imagem como o genuíno representante do antibolsonarismo e o que melhor reúne as condições para derrotar o atual presidente. Argumentei anteriormente nesta coluna que, desde a recuperação de seus direitos políticos, o petista tem atuado no sentido de reconstruir diálogos e pontes com antigos aliados e mesmo com adversários históricos.
Esses movimentos visam demarcar suas profundas distinções de Bolsonaro e de seu caráter autoritário e discurso antipolítico. Lula transpõe sua estratégia de capacidade de diálogo com as forças políticas nacionais para o plano da diplomacia internacional, demarcando que neste campo seus esforços são ainda mais bem-sucedidos. Nas redes sociais do PT, é a qualidade de “Estadista” do ex-presidente que é evidenciada.
Em entrevista ao jornal El País ocorrida durante a passagem de Lula pela Espanha, o ex-presidente afirma de modo contundente que não pode voltar à Presidência para colocar em risco seu legado: “não posso fazer menos do que fiz. Por isso tenho um temor: não posso voltar para fracassar”. Além disso, o petista evidencia uma clareza dos desafios de enfrentar a extrema-direita, a necessidade de composição de alianças, entre outros.
Em suma, Lula não parece nada acomodado perante os números de diversas pesquisas, algumas inclusive que indicam suas chances de vitória no primeiro turno. Ao contrário, o petista indica compreender com lucidez que ainda estão rolando os dados. Manter o amplo favoritismo mobilizando-o para a construção de alianças e de opinião pública favorável são tarefas cruciais do ex-presidente em seu percurso até a disputa de 2022, para a qual falta um longo ano.