Bemdito

Petismo, lulismo e as escolhas políticas para 2022

Quais Lula e Partido dos Trabalhadores veremos na disputa política de 2022?
POR Monalisa Soares
Ricardo Stuckert

Há um ano, escrevia nesta coluna sobre o Antipetismo e o Fator Lula levando em conta os percursos do Partido dos Trabalhadores e as expectativas em torno do retorno do ex-presidente ao jogo político. Naquele momento, destaquei dois aspectos: a) a simbiose entre liderança e partido; e b) a capacidade de liderança e mobilização do líder petista que poderiam trazer consequências substanciais à disputa em favor do partido e da oposição.

Chegado 2022, após anos de caminhos tortuosos, Lula encontra-se na liderança das pesquisas de intenção de votos e o PT ocupa a condição de partido de maior preferência dos/as brasileiros/as com 28%. Uma posição muito significativa se compararmos com os demais partidos, já que os segundos lugares (PSDB e MDB) pontuam 2%. 

Atualmente está muito evidente que tanto Lula quanto o PT vivem um clima positivo de popularidade, bastante distinto do efervescente antipetismo que dominou a cena pública no período 2015-2018. Por óbvio, não quero dizer que o sentimento negativo em relação ao partido deve ser desconsiderado. A questão a ser discutida é quais segmentos do eleitorado são ativados por esse antipetismo e a partir de que símbolos e conteúdos políticos. 

Alguns analistas têm atribuído essa curva ascendente na avaliação positiva do partido à “onda Lula” e sua bem-sucedida pré-campanha presidencial. No último dia 10 de fevereiro, no evento de comemoração de 42 anos de existência do Partido dos Trabalhadores, em seu discurso, Lula explicitou sua forte ligação com o PT: “Para mim, esse partido é como o ar que eu respiro. Esse partido, para mim, é como se fosse o batimento do meu coração. Esse partido, para mim, é como a água que eu bebo. Esse partido é a razão da minha vida, porque ele foi criado para servir única e exclusivamente aos interesses do povo oprimido desse país”.

O discurso do ex-presidente revela a sintonia com o partido e suas tarefas políticas, mas também o seu investimento “na vida partidária, valorizando a importância da sigla na viabilidade dos governos e na disputa democrática a longo prazo, como afirma a cientista política Gabriella Bezerra. O que seria um diferencial em uma avaliação das candidaturas sob a perspectiva da pertença partidária.

Além da simbionte relação entre Lula e PT, o aniversário do partido também foi palco para o lançamento da proposta de criação de Comitês Populares de luta. Tais comitês seriam criados em todo país, especialmente em áreas pobres e periféricas das cidades.  Tal proposta evoca uma reconexão com as bases, ideia bastante sedimentada na esquerda e que dialoga com o argumento de que a experiência do lulismo, com seu reformismo fraco, usando os termos de André Singer, teria desmobilizado o partido.

Diante de um contexto político de fortalecimento da extrema direita, torna-se, portanto, relevante para o partido essa “articulação/mobilização das bases” para o processo eleitoral mirando o futuro governo. A apresentação dos Comitês revelaria um tom de autocrítica partidária e teve como porta-voz Gilberto Carvalho, ex-Chefe de Gabinete de Lula e ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência no governo Dilma.

Relevante destacar que, se por um lado foi dada evidência aos Comitês Populares e sua proposta de reaproximação das bases, por outro, nas falas das maiores lideranças partidárias, se sobressaiu o tema da importância das amplas alianças como observado nos discursos da presidenta do partido Gleisi Hoffman e do ex-candidato à Presidência Fernando Haddad. Corroborando com o sentido das alianças institucionais, também foram exibidos vídeos de presidentes de partidos que podem compor o arco de alianças para 2022: PSB, PCdoB e PSD. Desse modo, o evento partidário sinaliza a intenção de atuar em duas frentes: busca de apoio popular, sem abrir mão das alianças institucionais. O quanto disso é possível realizar, teremos que esperar para ver.

Alguns analistas têm se perguntado: quais Lula e PT veremos na disputa política de 2022? O evento de comemoração do aniversário do partido indiciou alguns aspectos de como liderança e partido se apresentarão no debate público deste ano. Em breve ambos terão mais uma possibilidade de ensaiar as narrativas políticas que colocarão em cena na disputa eleitoral. Para os que gostam, a propaganda partidária, que será veiculada no próximo mês, nos servirá de um bom spoiler.

Monalisa Soares

Doutora em Sociologia e professora da UFC, integra o Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia e se dedica a pesquisas na interface da comunicação política, com foco em campanhas eleitorais, gênero e análise conjuntura.