Academia Gilbertiana de Letras
Gilberto Gil na Academia Brasileira de Letras. Repito. Gilberto Gil na Academia Brasileira de Letras. Faz muito sentido. Ele próprio detém em suas obras sonoras um dos maiores acervos de textos que traduzem o Brasil. Convenhamos, o cara que escreve Lamento Sertanejo (com instrumental de Dominguinhos, outro gigante simples) deve ser contemplado, independente se de fardão ou de bermuda. O baiano nem tanto esotérico amealhou 21 dos 34 votos possíveis no certame dos letrados que, de uns tempos para cá, abriram-se para o teatro, cinema e música.
Coerente a escolha. Gil é a cara do Brasil. “Ele canta o Brasil e pensa o Brasil.”, como afirmou o já acadêmico Antônio Cícero.
Erudito, popular, facinho de ser compreendido quando quer, mas capaz de dar nó em cabeça de milico em tempos de Regime Militar. Doce e bárbaro, do jeito que nós aqui desta terra de incoerência somos. Gil conseguiu ser admirados pelos acadêmicos encastelados e também virar trilha sonora de novela da Globo com versos que são as coisas mais lindas:
Amarra o teu arado a uma estrela
E os tempos darão
Safras e safras de sonhos
Quilos e quilos de amor
Noutros planetas risonhos
Outras espécies de dor
Vamos ver se ele repete a jam session que fez com Kofi Annan na Assembléia Geral da ONU agora durante os chás das quintas da Academia.
Caso você tenha ainda alguma dúvida sobre a chegada de Gil à cadeira 20 da ABL, sugiro que visite a poesia de Refazenda, Se eu quiser falar com Deus, Andar com Fé, Palco, Drão, Aquele Abraço e Domingo no Parque. São músicas, mas servem de oração também.
Talvez ele tenha conseguido o mais difícil. E não trato de ganhar a eleição mencionada anteriormente. Refiro-me a sua literatura cantada à brasileira. Poucos chegaram a fazer isso bem feito como ele.
Além de parabéns, termino com votos que este imortal ajude a ressuscitar o Brasil e afastar aqueles que fazem da propagação do ódio à arte e à cultura seu ofício. Viva Gil.