Bemdito

Meus dias de candidato à Academia Brasileira de Letras

O que eu faria se ganhasse uma vaga na casa machadiana e por que voto em Conceição Evaristo
POR Xico Sá
Foto: Acervo ABL

Depois de tomar a vacina da Covid-19, aqui em SP, ainda posso ganhar a imortalidade em breve, com uma vaga na ABL, a Academia Brasileira de Letras. Minha candidatura está posta na praça. A ideia inicial foi do jornalista e escritor baiano Flávio VM Costa. E o que parecia uma bela sacanagem de um colega do ramo ganhou moral, apoios sérios e centenas de adesões gozadamente sacanas. 

Acabo de receber um telefonema de Bolívar Torres, repórter d´O Globo: deseja saber sobre o novo concorrente à casa machadiana. O nome do representante do Cariri cresce na bolsa de especulações lítero-boêmia. Imagina se muitos dos meus bares, caríssimo Paulo Mendes Campos, não tivessem morrido às quartas-feiras pandêmicas. Estaria eleito.

Falta de uma obra literária mais consistente não seria problema, nunca foi, a casa sempre foi generosa com os sarneys, mervais e outros bigodes tingidos e cofiados pela política. Sim, a mesma confraria abrigou Guimarães Rosa, Raquel de Queiroz, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, João Ubaldo Ribeiro etc. Teve e tem de um tudo, viva!

Com a morte do pernambucano Marco Maciel, vice-presidente no primeiro governo de FHC (1995 a 2002), a ABL tem quatro de suas 40 cadeiras à espera de novos imortais. Bruxo dos bastidores do poder, o então senador  do PFL venceu em 2003, de lavada, o escritor mineiro Fernando Morais, autor de A Ilha, Olga, Chatô etc. Como se vê, nem sempre a Academia leva em conta o conjunto da obra. Daí minha esperança (risos). Pena que também me falte politicagem & lobby para molhar o biscoito no chá dos imortais.

Esse chazinho, aliás, seria a minha primeira grande mudança no casarão machadiano. Levaria meu próprio cantil de aguardente e trocaria a madeleine por torresmo, queijo coalho, siriguela ou umbu-cajá. O fardão, óbvio, teria a assinatura do mestre Espedito Seleiro de Nova Olinda. Pense no guerreiro do sol, vislumbre a elegância nunca dantes vista em plagas fluminenses!

O certo é que estou curtindo os meus dias de candidato. O amigo carioca Álvaro Costa e Silva, o Marechal, me soprou uma grande vantagem dos acadêmicos: um plano de saúde extraordinário, noves fora o feitiço da imortalidade, é óbvio. Um sonho de consumo para o reumatismo de hoje e do futuro. O meu convênio acaba de subir de preço, uma carestia da moléstia.

Reencontrar os chegados Antônio Torres, Nélida Piñon, Geraldo Carneiro e Ignácio de Loyola Brandão, evoé Baco, também seria uma aventura festeira.

Agora falando sério: meu voto para a próxima vaga da ABL, com urgência urgentíssima, é da grande escritora mineira Conceição Evaristo. Firmo, certifico e dou fé.