Bemdito

Qual a sua arma?

Um convite para fortalecer a cultura do afrontamento, da invenção dissidente, com artistes LGBTQIA+ e negros
POR Ivna Girão

“E devorou o corpo da menina, do rapaz, da mulher de pau e do homem de vagina”. 

Uma arte preciosa que chega sem pedir licença neste quintal. Pés grandes ou pequenos, de tom preto avermelhado, que dançam espiralando sonhos carregados com mãos de lavadeiras, rezadeiras, parteiras. E fazem nascer o novo.

Convido aqui para celebrar a cultura de artistas negres do Ceará: é a websérie “Qual a sua arma?”, um projeto que surge a partir de experimentações colaborativas e trocas nas formas de construir narrativas e visualidades no campo da performance e dança. Cada novo episódio é “tiro, porrada e bomba”. São trincheiras que se erguem para refletir sobre estruturações no campo cênico, resistências, pluralidades e cosmovisões nas formas de fazer arte. 

O projeto tem realização e produção da Plataforma Afrontamento e conta com a parceria da PLUSplattform e da Escola Porto Iracema das Artes, através do Lança Cabocla e do Centro Cultural Porto Dragão e Hub Cultural do Ceará. A websérie pode ser acompanhada no canal do no canal do YouTube da Plataforma Afrontamento. Já são três episódios-disparos no ar, confere!

E várias questões são disparadas, como aponta o grupo, no processo de investigação e pesquisa do Corpo Roleta-Russa: podem as artes cênicas e performáticas ser armas? Quem é o alvo? Qual a hora do disparo? Qual é a munição? É a cultura de artistas negres no Ceará criando novos espaços inventivos. Afrontamento traz um coletivo de artistas e conta com coordenação de Wellington Gadelha. 

Nesse aquilombar, o Porto Dragão, equipamento da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará), tem sido espaço importante de acolhimento, escuta e criação para as produções dissidentes, para corpos inventivos, apoio para artistes LGBTQIA+, negres, pessoas com deficiência, a cultura da perifa. No dia 1º de julho, o Porto completou dois anos de atuação e faço entoar aqui todas as minhas loas para a vida longa desse lugar. 

Para celebrar, festejo dois projetos do Porto Dragão que têm sido palco importante desse fazer artístico: vem aí a 2ª temporada de Zona de Criação e a 3ª do Nós no Batente. E na programação, trago destaque para a participação de Mumutante, Muriel Cruz, artista mutante, que nos faz dançar um lo-fi, brega funk e eletrônico no “Vai Dá Bom”, de Emiciomar, em parceria com Mumu.

Outra novidade é a presença, no Porto, da Yara Canta, cantora e multiartista, uma das vozes mais fortes e bonitas LGBTQIA+ do Ceará, trazendo trabalhos que já são sucesso nas redes. Falam do orgulho de ser quem se é. 

Para fortalecer a cultura do afrontamento, da invenção dissidente, e para adiar o fim do mundo, convido os(as) leitores(as) que aqui nos acompanham, a divulgar (podem comentar nas redes do Bemdito: Instagram e Twitter) projetos e artes que trazem o novo, que gerem distopias e cosmovisões, feita por artistes negres, da perifa, LGBTQIA+, pessoas com deficiência, por mulheres, por corpos que se atrevem e se rebelam! Viva a cultura que não se aquieta!