Bienal: para dançar um novo futuro
Se dançar é fazer revoluções, a 13ª Bienal de Dança do Ceará celebra seu atrevimento em cada salto e pirueta, pois um corpo em movimento é livre, não cabe, se expande. E com a arte, nada volta ao seu lugar, cresce, extrapola e ganha o mundo. E assim, eu festejo a Bienal, que entra em nova edição. O evento acontece de 9 a 19 de dezembro de 2021 em vários espaços cênicos e conta, na sua programação gratuita e aberta ao público, com importantes nomes locais, nacionais e internacionais. Entre as atrações, a obra de Rachid Ouramdane com o slackliner francês Nathan Paulin, o Balé da Cidade de São Paulo e a Cia Balé Baião estreando “Dançar Paulo Freire”. O Festival acontece de forma presencial.
Atrevida, ousada, distópica, decolonial, livre, leve. Assim é a Bienal de Dança, um dos eventos mais festejados e aguardados do Ceará. É lá que as revoluções acontecem no palco e na vida. É lá que corpos quebram amarras e ganham asas. É lá que se vive a diversidade, um novo possível, é na Bienal que se dança um outro futuro, com artistes dissidentes, com cultura em forma de poesia e de protesto. E por falar em reflexões, lembro uma provocação recente da artista Grada Kilomba, em suas redes sociais: “A menos que a história seja contada corretamente, a sua barbaridade será repetida. Então, que histórias são contadas? Onde são contadas? Como são contadas? E contadas por quem?”. A Bienal vem para dançar novas formas de viver, para trazer outros olhares e rupturas.
E é lá também que se mata a saudade dos palcos. Superar tempos difíceis de uma pandemia que já dura quase dois anos, com perdas humanas, com a distância dos palcos, do público, com a falta do contato dos intercâmbios artísticos presenciais. Superar e festejar o estar de volta, com todos os cuidados, cumprindo protocolos essenciais para a preservação da vida. Essa é a essência da XIII Bienal Internacional de Dança do Ceará.
A abertura oficial será em Fortaleza, no dia 9 às 19 horas, no Cineteatro São Luiz, equipamento da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE), gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM). Após a solenidade, a Bienal traz novamente aos palcos cearenses o Balé da Cidade de São Paulo, que há mais de 15 anos não dança nos palcos da Bienal. “Ao longo de todos esses anos da Bienal, temos a proposta de proporcionar ao nosso público a possibilidade de acompanhar a trajetória de grandes companhias, grandes coreógrafos, nacionais e internacionais, assistindo suas obras em cena”, diz David Linhares, diretor da Bienal.
Com direção de Cassi Abranches, o Balé da Cidade de São Paulo apresenta nesta edição “Isso dá um baile!”, que estreou em outubro deste ano. A coreografia de Henrique Rodovalho é inspirada no passinho, estilo de dança que surgiu nos bailes funks da periferia do Rio de Janeiro, uma mistura de vários passos de funk, hip hop, break, kuduro, popping, samba, forró, frevo e ritmos do recôncavo baiano. Além de Fortaleza, a obra será apresentada também no dia 10, na Praça da Matriz, em Paracuru.
Outras companhias e artistas criadores cearenses também estão nesta edição da Bienal, com trabalhos novos. No dia 10, na Praça do Ferreira, a Bienal apresenta “O Rito”, espetáculo de formatura da 3ª turma do Curso de Formação Básica em Dança da Escola Pública de Dança da Vila das Artes. A conceção e direção coreográfica é de Luiz Fernando Bongiovanni.
A bailarina e coreógrafa Andreia Pires dirige “Zabumba” (2021), onde traça um desenho do corpo brincante, descobrindo como pode ser o gesto e o comportamento a partir do encontro com outras tradições, assimilando formas e afetos por meio da dança e que não seja uma visão fechada ou clichê daquilo que se diz sobre traços da cultura popular, mas um atravessamento de culturas. Silvia Moura, uma artista das conexões possíveis, entre o corpo e o pensamento, apresenta “Casa, Corpo, Mulher, Árvore” (2021), uma ação de resistência neste momento em que a sociedade em meio a inúmeras mortes, medos, incertezas e o escancaramento das desigualdades sociais, tem/teve na arte, em alguma medida, uma parceira para suportar os dias.
E para celebrar a dança e adiar o fim do mundo, convido o público a prestigiar e se encantar com mais uma edição da Bienal de Dança do Ceará. E como diz a artista Grada Kilomba – que faz revoluções com suas palavras e passos – “o meu trabalho é criar essa poesia e estética para que qualquer pessoa fique tocada, através da contemplação e das perguntas que podem surgir. O que me interessa mais é suscitar essa reflexão”, acrescentou, dizendo que a arte “é como um jardim mágico”. Viva a Bienal!
Saiba mais: https://bienaldedanca.com/