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A cultura do Ceará vive: novas produções em música, balé e teatro

Entre renovações, a cultura regional segue em pulsação, feito luz acesa em dias sombrios
POR Ivna Girão
Foto: Pedro Cela

Entre renovações, a cultura regional segue em pulsação, feito luz acesa em dias sombrios

Ivna Girão
ivnanilton@gmail.com

“Aqui a voz de uma mulher reverberando centenas de mulheres outras”
(Filhes de ninguém)

Donas de si, jovens cantoras cearenses ganham o mundo. Com um tom potente, expandem-se. Tem novidade bonita chegando em um alvoroço bom, um respiro no peito que só a cultura causa: é o projeto musical Filhes de Ninguém, de um ateliê de Criação em Música do Arte Urgente, projeto da Secretaria de Cultura do Ceará (Secult Ceará) e Instituto BR.

Filhes de Ninguém teve lançamento recente nas redes sociais e promete experimentações, criações e pulsações. Feito por uma juventude danada, apresenta rostos que sorriem e trazem felicidades, mulheres negras, periféricas, indígenas, uma garotada que canta e repudia o preconceito, a LGBTfobia, o racismo, e que brada à liberdade com vigor e ousadia. “Quem disse que eu não posso? Acredite em você!”: uma música com fervor e muita libido. 

O novo projeto musical vem para promover o encontro do produtor musical Claudio Mendes com 12 jovens talentos da cidade de Fortaleza. “Todo o repertório do projeto foi composto e arranjado durante as trocas entre Claudio e a turma. A experiência vai virar um EP com 5 músicas, gravado no estúdio do produtor e em breve estará disponível em todas as plataformas digitais”, apresentam os idealizadores da ação. 

Apresento aqui, com alegria, alguns dos artistas e instrumentistas: Claudio Mendes, Beatriz Bandeira, Caio Vítor, David Praxedes, Dudalino Itapewa, Elli Martins, Gabriel Arcanjo, Lais Rodrigues, Letícia Anacleto, Raquel Martins, Tomas Jefferson, Valdemir Sousa e Vitor Sousa. 

Entre as renovações, outras criações saltam aos olhos e palpitam o coração. Outra criação dos Ateliês do Arte Urgente – Secult Ceará é um projeto de dança entre dunas.

Convido para conhecer Cascalho, um filme de dança realizado com bailarines da Escola de Dança de Paracuru: “movimentando memórias, histórias e invenções, nesse lugar de águas e dunas, que movem os corpos de um lado para outro, desenhando um quadro coreográfico e afetivo. Uma experiência estética a partir do encontro entre a cidade, o corpo, o som e a poesia”, afirmam. 

Cascalho é de uma beleza profunda. Corpos destoantes e divergentes, ora com beleza, ora com tristeza, mergulham em poéticas que convidam para reflexões: movimentos que trazem, na liberdade da dança, uma gana de liberdade. Convido para conhecerem algum dos bailarines: Eduardo Freitas, João Batista, Leandra Vieira, Lucas Melo, Luísa Castro, Neto Antonio, Nielly Mayra, Pâmela Nere, Romário Santiago e Will Costa. 

Estreia festejada no teatro, Cabras, um experimento do Arte Urgente, traz estranheza e incômodo para o palco, arte que entra pela porta da frente e planta um “elefante” gigante na sala. No fim da live, um silêncio e um tanto de questões na cabeça. Arte é isso, é para reflexão, é para “descer” difícil. Em Cabras, Edceu Barboza, Elizieldon Dantas e Fagner Fernandes “criam, inspirados no universo das masculinidades, tendo como ponto de partida suas subjetividades, individualidades e experiências, recortando, dentro do processo, dramaturgias que atravessam a pluralidade e diversidade de como se dão as construções das masculinidades e o que se compreende socialmente sobre o que é ser homem”, aponta o texto do projeto. 

Acompanho há um tempo o Grupo Ninho, de teatro, que há mais de 10 anos é potência no Cariri cearense. Tem um fazer cênico de pés no chão do terreiro e olhar no futuro. E pauta temas afiados, fazendo incomodar com atuações fortes. Ninho é lugar de acolhida, mas é casa também de voo e partida. Vida longa a quem faz arte nesse Brasil tão inóspito!

E para adiar o fim do mundo, celebro os artistas e os fazedores de cultura desse Ceará. Vocês são luz acesa e radiante em dias tão sombrios. 

Ivna Girão é jornalista e Coordenadora de Comunicação da SECULT. Está no Instagram.

Ivna Girão

Jornalista, historiadora e escritora, é coordenadora de comunicação da Secretaria de Cultura do Ceará.