Bemdito

É mesmo um bom momento para ficar mais trilionário?

Bezos e Muskes devem mesmo servir de parâmetros de vitória na vida?
POR Cláudio Sena

“Os que comem bem, dormem bem e têm boas casas acham que se gasta demais em política social.” José Pepe Mujica 

“10 homens mais ricos do mundo dobraram patrimônio na pandemia” bem legível no site da BBC e também no jornal matinal da TV Globo. Que belo “bom dia” receber tal notícia logo pela manhã cedo. Os dois homens branquíssimos Jeff Bezos e Elon Musk duplicaram suas fortunas durante esse período crítico da história. Chega a dar um alívio saber desse dado da pesquisa publicada pela organização não-governamental britânica Oxfam. <<< Ironia detected! 

Ora, talvez seja justo, já que eles, nossos primos distantes da espécie humana, tanto inspiram jovens. O que falam e fazem a gente acompanha daqui de longe, mas no mesmo planeta, pelo menos por enquanto. Os pensamentos desses astros viram aspas replicadas como modelos a serem seguidos. Algo como as “Meditações” de Marco Aurélio ao contrário e atualizadas para os nossos tempos. 

Na perspectiva da competitividade e da rentabilidade a qualquer custo que margeia a pista de corrida até o topo mínimo da pirâmide, me admiraria se fossem jogados ao posto de farol os entregadores de marmita na noite fria de Fortaleza, os capitães de canoa em meio às enchentes na Bahia ou os assistentes sociais no campo de refugiados da ilha de Lesbos na Grécia. Quantos empregos essas anônimas formiguinhas geram? Talvez fosse esse o contra-argumento que justificaria os Bezos e os Muskes como melhor ranqueados na hierarquia de seres humanos importantes. 

Concentrar-se em assegurar o básico para muitos ou garantir o funcionamento do motor da história necessariamente vinculada aos avanços tecnológicos e conflitos bélicos? Se a medida for em dólares, euros, etc, o modelo bezomuskiano ganha. 

Serão eles e suas confrarias que marcarão épocas, afinal, como disse George Orwell, useiro e vezeiro de posts inspiradores: “a história é escrita pelos vencedores”. Mesmo que, para isso, muitos percam. 

Neste mundo que, aparentemente, não mudou nada até agora em 2022, continuarão Bezos e Muskes parâmetros de vitória na vida? Se isso é para muitos a normalidade, digo e prego como professor Hermógenes: “Deus me livre de ser normal.”. 

Cláudio Sena

Doutor em sociologia, professor, pesquisador e publicitário, é mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Porto.