Chá das Quintas apresenta: Lizz Camargo
Cover oficial de Hebe Camargo, a paulista Lizz Camargo é uma das primeiras crossdressers do Brasil
Tatiana Hilux
dario.conde2000@gmail.com
Tatiana Hilux // Minha convidada da semana para o Chá das Quintas vem da terra da garoa, São Paulo. Com vocês, Lizz Camargo! É uma honra ter você aqui comigo, no meu espaço virtual, onde tenho um bate-papo à distância super saudável com grandes artistas do Brasil. Me fala como o Jaime desabrochou para os palcos com a sua personagem Lizz Camargo?
Lizz Camargo // Desde os 20 anos de idade, hoje tenho 60, já havia me assumido como gay e como crossdresser, numa época em que nem se cogitava falar sobre crossdresser, mesmo porque não havia crossdresser e também quase nenhuma informação sobre o assunto. Há dez anos, eu já me montava. Como publicitária que sou, percebi que nós, cross, não tínhamos um espaço onde pudéssemos estar como “mulher” de forma mais efetiva. Como publicitária que sou, criei então a festa Noite da Rainha Cross. Foi reservada uma estrutura onde elas pudessem chegar e se montar, com o apoio de um camarim e ainda com um maquiador à disposição. Foi quando um maquiador me presenteou com uma make e percebemos a minha semelhança com Hebe Camargo. Aí surgiu a homenagem a essa diva da TV brasileira, que me acompanhava desde a infância. Assim, nasceu Liz Camargo, à frente dos projetos crossdresser.
Tati // A noite de Sampa sempre foi um atrativo para o ator transformista. Como você vê o retrato atual e os áureos tempos da Nostro Mondo e outras?
Lizz // Na época, os grandes espetáculos no ambiente gay em São Paulo davam-se, a meu ver, por dois motivos: a preocupação com o glamour das apresentações e, sobretudo, com a exigência do público, que era outro. Era uma época de ouro das grandes apresentações, onde surgiram as fantásticas artistas transformistas na época. Hoje, infelizmente, por falta de investimentos e também pelo desejo do público por algo mais sensualizado, não se busca mais o glamour de outrora, o que na minha opinião, é uma pena.
Tati // Você atua de frente com a categoria crossdresser de SP. Como você define uma “cdzinha” (versão abrasileirada para definir crossdress)?
Lizz // A crossdresser tem por objetivo “estar” mulher e ir, assim, aperfeiçoando-se cada vez mais. Ela passa por um processo de construção de identidade. As cdzinhas fazem parte dessa escala, desse processo. Mesmo não querendo discriminá-las, é fato que estão ainda num momento de buscar sexo através das suas imagens, mostrando bumbuns, e, digo isso sem dúvidas, querem buscar também um envolvimento romântico através das suas práticas, o que não ocorre.
Tati // Estamos perdendo grandes nomes do nosso panteão artístico. Quais são as suas palavras para as pessoas que perderam entes queridos?
Lizz // Assim como na época do Renascimento, esta pandemia traz consigo um novo olhar em relação aos valores e ainda uma nova possibilidade de evolução. Infelizmente, houve muitas perdas, não só para o cenário LGBT+, como para a humanidade em geral. Descaso e mortes. Mas se tivermos um olhar para esse novo mundo, poderemos superá-lo e melhorar como seres humanos.
Tati // Hebe por Lizz. Como surgiu o encanto por Hebe Camargo?
Liz // Hebe sempre esteve presente, ao longo da minha vida como espectador. Sem dúvida, foi a grande diva da TV brasileira. Como disse anteriormente, a Lizz surgiu através de um olhar de um maquiador, que percebeu a minha semelhança, principalmente os olhos, com ela.
Tati // Agradecemos imensamente o seu tempo e a sua disponibilidade. Beijos do Ceará e de todos que fazem o Bemdito.
Lizz // Penso que temos de nos posicionar ao lado do que é realmente valoroso, o lado do bem, o lado construtivo, para alcançarmos momentos de plenitude em nossas vidas, independentemente do momento que estamos vivenciando. Obrigada pela oportunidade de estar aqui, com vocês! Beijos da Lizz.
Tatiana Hilux é artista transformista. Está no Instagram.