É preciso que tudo mude para que tudo permaneça igual

Privatização da Eletrobrás é mais um “convescote” para manter a coisa pública sob particulares escolhidos entre si

Simone Mayara
simonempf@gmail.com

O projeto de privatização da Eletrobrás, que agora sai da Câmara dos Deputados e segue para aprovação no Senado Federal, é a fórmula perfeita para futuras críticas às privatizações. Com o nome de “privatização” e a promessa de ser ordem de liberalização, o texto traz, como se chama na política, jabutis. Trechos ali, perdidos no meio, e que servem aos interesses de alguém específico, foram objeto de negociação ou tratam de assunto completamente diverso do central ao tema – nesse caso, creio que muito da primeira opção. O texto que segue para aprovação traz o dever, quase com endereço e CPF/CNPJ, de que haja usinas de geração.

A justificativa foi tomada por termos genéricos e bastante politiquescos no plenário, como interesse nacional e proteção aos mais pobres. O que ocorrerá na prática é a reserva de mercado e a manutenção – ou mesmo o aumento – dos valores da energia, em razão da interferência que isso representa. E mais: desrespeitando a realidade das regiões do país e privilegiando empresas específicas em lugares específicos.

Mais uma vez, eis aqui um convescote para garantir que tudo continue como é feito, sob a alcunha de “privatização”. Com isso, mantém-se a coisa pública sob a égide de poucos particulares, escolhidos entre si, e não da tão temida mão livre do mercado, muito menos do povo, a quem os parlamentares representam.

Todos pagaremos caro, tudo continuará igual.

Simone Mayara é Analista Política no Instituto Livre Mercado. Está no Instagram.