Chá das Quintas apresenta: Marco Delmonte
Um bate-papo com Marco Delmonte, destaque entre os dubladores de São Paulo
Tatiana Hilux
dario.conde2000@gmail.com
Tatiana Hilux // É um prazer ter você aqui na minha coluna Chá das Quintas no Bemdito! Fala pra mim de onde surgiu esse amor pelos palcos?
Marco Delmonte // Na verdade sempre houve o amor pelos palcos, sempre houve uma veia artística. Ainda lá atrás nos anos 80 conheci a boate Nostro Mondo que me fascinou. Me bateu a vontade de estar nos palcos da noite, um desejo que se acentuou quando passei a frequentar também a casa noturna de Elisa Mascaro, a Corintho. Naquela época não podia e nem estava preparado para começar, pois precisava trabalhar e estudar, não tinha como viver da arte e nem tinha condições para os figurinos. Eram anos de muito glamour para quem subia nos palcos. Somente depois de mais de 30 anos consegui finalizar as graduações e me estabilizar financeiramente, assim pude realizar esse sonho e resgatar um pouco do glamour daquela época nas escolhas das músicas e figurinos.
Tati // BlueSpace completando 25 anos em 2021. Como você analisa a noite paulista de uns anos pra cá?
Marco // É um orgulho viver para ver uma casa noturna como a Blue Space sobreviver a tantas mudanças e resistir, ser fortes. Tenho muito orgulho das casas que se mantêm em dias tão difíceis, sobretudo no último ano, quando caímos situação delicada…A noite paulista exige demais dos artistas, os tempos mudam assim como tudo e não vejo grande valorização para os artistas do cenário LGBTQIA+. A valorização é maior para os gogoboys e poucas drags conseguem sobressair, as já estão há um bom tempo na estrada ou as que inovam constantemente. O mercado para artistas aqui em São Paulo é extremamente exigente e o performer masculino sofre mais desvalorização na cidade. Podemos contar nos dedos de uma mão os performers masculinos. É necessário muita manobra para alcançar sucesso e estar de fato em cena, caso contrário não resiste.
Tati // O que mais você leva em conta na criação de um show, de uma apresentação?
Marco // A criação de uma apresentação é complexa demais. Primeiro busco uma música que agrade o público e com a qual eu tenha muita afinidade, daí começa o laboratório, a produção do figurino, principalmente se for de época, ou anos 70, 80… Eu tenho figurino que me remete a vários períodos históricos. Analiso minuciosamente como o cantor se expressa e, se for uma música internacional, analiso a letra traduzida. Depois desse mix, há os ensaios de figurino, expressão corporal e principalmente a expressão labial, para que possa parecer que estou cantando a música. Esse é um dos processos de que mais gosto e, quando tenho uma inspiração, começo a trabalhar na música. Até hoje sou muito grato pelo carinho e aprovação do público.
Tati // Como tem sido o impacto da pandemia para os artistas em SP?
Marco // Tem sido um período muito triste e difícil. Uma espécie de silêncio mais ensurdecedor que a explosão de um canhão. Recorreram às lives, rifas, entre outras formas importantes para manter uma renda que possa substituir o que ganham com os eventos. Muitos só sobrevivem de shows e as casas fechadas, foi preciso pensar rápido numa saída para que pudessem se manter. No meu caso específico, não vivo de shows. Sou professor, hoje vice-diretor de escola e também assistente social. Os artistas me surpreenderam com o dinamismo, inteligência e principalmente com a rapidez com que se adaptaram aos recursos tecnológicos.
Tati // Quem é o Marco no dia a dia fora dos palcos?
Marco // Sou Marco Antonio Rufino Del Monte, tenho minha primeira graduação em Matemática e Ciências Física e Biologia. Sou graduado em Pedagogia e também em Serviço Social. Sou um profissional muito exigente com meu trabalho e atuo como vice-diretor na rede estadual de São Paulo. Também tenho uma ONG que trabalha com educação infantil. Aparte desse lado profissional, o Marco é um apaixonado pela vida, por pessoas e animais. Não passo um dia sequer sem ouvir música em alto volume, adoro as músicas românticas, sejam nacionais ou internacionais. Hoje tenho 52 anos, mas para quem convive comigo sempre me atribui 25. Um dia vou crescer! Ou não (risos). O fato é que sou apaixonado pela vida.
Tati // Fazer planos em época de isolamento social é algo até corajoso. Como você se vê no retorno das atividades normais?
Marco // Sim, tenho milhares de planos, afinal sou muito jovem ainda. Quero voltar com a ONG e com muitas atividades da eduação infantil que estão paradas por conta da pandemia. Iniciei minha carreira nos palcos em meados de 2019 (pouquíssimo tempo), logo chegou o isolamento e a carreira ficou por conta das lives. Tenho planos de grandes apresentações com duetos e espetáculos. Sobre os trabalhos remotos na minha profissão, confesso que não sou muito bom, mas como funcionário público optei por trabalhar presencialmente, já que as escolas estão com número reduzido de alunos.
Tati // Agradeço imensamente sua atenção e disponibilidade e peço que deixe uma mensagem aos leitores do site Bemdito.
Marco // Eu agradeço grandemente o carinho e atenção, quero deixar registrado a alegria em poder falar, ser entrevistado, poder expressar minhas ideias, meus planos, o que sou e faço. Já tenho grande admiração pelo seu trabalho e agora a forma de conduzir a entrevista me faz ser ainda mais seu fã! A todos do Bemdito, nunca se esqueçam: se nos deram o direito à palavra, então que façamos um bom uso desse direito, um mais um é sempre mais que dois (falou aqui o professor de matemática). Gostaria de prestar meus agradecimentos aos figurinistas que muito contribuem para meus shows: Meyre Ortega; Karla Ariane e Aleks Voltryne.
Tatiana Hilux é artista transformista. Está no Instagram.