Bemdito

Chá das Quintas apresenta: Tbengston Martins

Diretamente do Piauí para o Rio de Janeiro, Tbengston é dona do título de Patrimônio Imaterial da Cidade do Rio
POR Tatiana Hilux

Diretamente do Piauí para o Rio de Janeiro, Tbengston é dona do título de Patrimônio Imaterial da Cidade do Rio

Tatiana Hilux
dario.conde2000@gmail.com

// Tatiana Hilux // É um prazer inenarrável receber esta figura nacionalmente conhecida no Chá das Quinta. Vem pra cá, Tbengston! E me fala: como foi o carnaval de 2020, já que não tivemos carnaval em 2021?

// Tbengston // O carnaval de 2020 no Rio foi maravilhoso, foi “the best”. Todas as maravilhosas que vieram do exterior e de outros estados deram seu bom close no camarote da Tbengston. Neste ano, a Banda das Quengas completou 30 anos de resistência e existência no carnaval. Quero agradecer o apoio de todos os amigos, inclusive você, Tatiana Hilux, que é a atual Princesa da Banda das Quengas.

// Tati // Como surgiu a oportunidade do Festival da Diversidade Carioca na sua carreira?

// Tbengston // O Festival da Diversidade foi criado em 2018 com o objetivo de somar, agregar e valorizar a arte transformista do Rio e do Brasil. Tive a sorte de terem me concedido o Terreirão do Samba. Entrei com a cara e a coragem. Levamos 49 artistas do meio artístico da diversidade e o Rei da noite foi Milton Cunha. Foi maravilhoso.

// Tati // Você é nordestina e iniciou a sua carreira na região. Você já veio ao Ceará também? Me fala um pouco do início da sua personagem.

// Tbengston // Foi muito difícil o começo na vida artística lá em 1977 no Piauí, mas enfrentei tudo e todos e fui para São Paulo. A primeira vez que pisei no palco foi em uma boate de Niterói chamada Cá entre nós e fiz a música Feira de Mangaio, de Clara Nunes. Fiz vários shows em São Paulo junto com Luis Rodrigues e também sou a idealizadora da primeira casa LGBT do Piauí que era do Reginaldo e da Tbengston. Sou atualmente a diretora de marketing e finanças da banda das quengas e titular da TV Balança.

// Tati // Seu bordão é “aceite ou me respeite”. O Rio zela muito pelo artista maduro, mas o mesmo não acontece no estados do Nordeste. Como é seguir em frente na arte transformista perante tantos desafios?

// Tbengston // Esse é um dos meus bordões. Eu sempre digo e sempre irei dizer: “viva a vida com fé”. Digo isso por ser um cidadão católico apostólico praticante. Um dia, por acaso, eu disse “me aceite, nos aceite e me respeite”. E essa ficou sendo a frase de 2019 para a banda das Quengas: “aceitem ou respeitem”. Ninguém é obrigado a aceitar ninguém, mas respeitar por educação é o mínimo que se pode fazer. Em 2020, eu lancei o bordão: “mude você, não os outros”. Porque a pessoa tem que aceitar o outro como ele é, em vez de obrigar o outro a mudar. Então, mude você e não os outros. A arte do transformismo é restrita, mas nós quebramos barreiras. O mercado tem se aberto mais para a classe trans, mas continua ainda restrito. Esse lance de dizer que não existe preconceito é algo para inglês ver porque sempre existiu e sempre existirá preconceito contra nós, homossexuais. Para diminuir esse preconceito, temos que lutar. Temos que ser versáteis, correr atrás do nosso objetivo e também estar preparados para as oportunidades. Muitas vezes, as oportunidades surgem e não estamos preparados. Então, é preciso se reciclar, aprender, inovar. Ao inovar, você pode estar mais preparado para as oportunidades.

// Tati // Seu casamento com o querido Charles é sólido e antigo. Você sempre foi pra casar ou teve uma fase namoradeira?

// Tbengston // Nunca fui namoradeira, pegadora, nunca. Paquera, tudo bem, mas eu sou bem na minha. E quando gosto de alguém, mantenho algo realmente sólido. Estou com o meu careca no papel passado há treze anos. Gosto muito dele. Ele me completa diuturnamente. E gosta muito de você, viu Tati?

// Tati // Como vocês estão lidando com essa fase transformadora e, ao mesmo tempo, super estressante do coronavírus?

// Tbengston // Eu já me vacinei com a primeira dose, mas continuo presa dentro de casa. Está sendo a pior das coisas. Fico em casa e o Charles sai para trabalhar porque o trabalho dele não foi liberado. Ele trabalha em restaurante e tem que estar presente para efetuar o processo burocrático, já que é o gerente do setor dele. Eu fico sozinha, preocupada com tudo isso que tá acontecendo. Quando ele chega, se higieniza totalmente e só depois vem me dar um beijo. Mas tenho certeza de que tudo isso vai ter um fim. Deus é brasileiro e nós somos fortes. Já suportamos e enfrentamos várias epidemias.

// Tati // Grata por sua atenção e gentileza. Poderia mandar uma mensagem aos nossos leitores, por favor?

// Tbengston // A vida é bela. Não mude quem você é para agradar ninguém. Primeiro, agrade-se e ame-se. Nunca acredite no que as pessoas falam de você. Temos que acreditar em nós mesmos. Respeitem seus semelhantes e saibam ouvir. O que sai da nossa boca é muito forte, então sempre pense muito bem antes de falar para não desagradar quem gosta de você. Nós demoramos para conquistar amizades e, com uma simples palavra mal dita, toda uma amizade pode ser destruída. Fiquem com Deus. Aceitem ou me respeitem. Beijos da Tbengston!

Tatiana Hilux é artista transformista. Está no Instagram.

Tatiana Hilux

Artista transformista desde 2000, é Miss Gay Ceará Oficial 2002 e Miss Gay Ceará Plus Size 2017. Parte do grupo artístico Turma OK, tradicional casa de shows carioca, também integra o Coletivo Artístico Divas.