Fé e canja de galinha não fazem mal a ninguém
Quando o inesperado desfavorável, a popular desgraceira medonha, aparece subitamente apontando no horizonte para destruir a gente, o que nos resta no depositário de energia vital é a possibilidade de acreditar. Uma, mesmo que leve, perspetiva de mudança. Para melhor, de preferência. É aí que entra a fé na jogada.
Sendo este o meu primeiro texto de 2022 no Bemdito e diante da situação que poderia estar bem melhor, torna-se apropriado abrir os trabalhos deste ano falando disto: fé.
Blaise Pascal (1632-1662), físico, matemático, filósofo, escritor, teólogo, criador de teorias e teoremas, hoje seria o terror dos primos menos bem-sucedidos durante os compromissos de família, um jovem certamente disputado pelas turmas preparatórias dos colégios com recorde de aprovação no ITA. Depois de queimar pestanas com números e medidas, ele mergulhou no cristianismo, ainda com um pezinho nas exatas. Entrou numas de provar que é melhor crer em Deus (amplio aqui para crer em algo) que não acreditar em nada.
Para Pascal, quem acredita em Deus e, se ele (Deus) existir, o abençoado fiel ganha o céu. Se ele (Deus) não existir, não se perde nada. Mas, se o homem de nula fé vive como se Deus não existisse e ele (Deus) existir, o amigo ganha o castigo e perde o céu. “Pensemos ganhos e perdas apostando que Deus existe… Se ganhares (a aposta), ganhas tudo; se perderes, não perdes coisa alguma. Aposta então, sem hesitação, que Ele existe.”.
Faz sentido. Além do que, é muito aflitivo não ter para quem recorrer na pane aérea ou no momento do pênalti, porque tem hora que não basta novena e joelho no chão. Não sei vocês, mas eu vou de Deus, mas também vou de Descartes e, claro, uma boa dose de Pascal para aguentar este rojão. E, aos ateus, já que vocês não têm compromisso com ninguém lá de cima, também não se preocupem em acreditar de última hora. Fiquem tranquilos: na sala do legista, ninguém tem acesso aos seus pensamentos. Se precisar, vão na fé.