Bemdito

Maternidade: logisticamente preparada, emocionalmente alarmada

Ser mãe é estar sempre confusa. Se eu soubesse lá atrás o que sei hoje, teria feito tudo de novo
POR Cintia Bailey

Ser mãe é estar sempre confusa. Se eu soubesse lá atrás o que sei hoje, teria feito tudo de novo

Cintia Bailey
cintia.bailey@outlook.com

Minha filha completou dez anos ontem. Olhando para ela, entrando em nosso quarto bem cedinho, procurando seus presentes, pensei: como é que eu poderia ter posto esta criaturinha no mundo? A maternidade continua a me surpreender e, dez anos depois, ainda me faço essa pergunta. Meu amor por ela é algo que sinto fortemente e é incrível saber com certeza que ela sempre será a pessoa mais importante da minha vida. No entanto, ser mãe nem sempre foi uma coisa positiva em minha vida. Deixe-me explicar…

Eu queria muito engravidar e tive uma gravidez fantástica – sem complicações e nada fora do comum. Naveguei por nove meses de felicidade. Eu já havia escolhido o nome dela e cantava as músicas da Adele no banho com ela na barriga. Eu estava logisticamente preparada, afinal ela tinha todas as coisas que os pais devem comprar. Eu não estava preparada emocionalmente. Até que você tenha experimentado, você não tem ideia. Eu não tinha ideia. Nada chega perto do quão difícil era cuidar de um bebê para mim. Eu me sentia tão impotente e ansiosa, que ficava pensando: há pessoas por aí que realmente curtem isso? Lembro que as pessoas diziam que seria a coisa mais gratificante que eu faria. Mas realmente não estava sendo tão gratificante. Eu estava cansada demais para me sentir recompensada.

Obviamente, as coisas ficaram mais fáceis e comecei a sentir um grande prazer em amamentar e ver os marcos ganharem vida: engatinhar, andar, falar… tudo muito maravilhoso de ver. No entanto, essa verdade espinhosa – que a maternidade é algo que muitas mulheres lutam para desfrutar e se descobrem detestando uma boa parte do tempo – está vazando. As mídias sociais não ajudam, não é? A enxurrada constante de imagens e palavras nos dizendo que temos que valorizar cada momento. Falando com amigas, percebi que temos de ser capazes de aceitar a noção (radical) de que duas ideias opostas podem coexistir ao mesmo tempo – que você pode amar seus filhos e, ao mesmo tempo, odiar muito a rotina maternal do dia-a-dia.

Durante anos, guardei esse sentimento como um segredo vergonhoso, acreditando que havia algo de errado comigo por não amar cada minuto passado no chão com minha filha, brincando, até ela ficar cansada o suficiente para uma soneca. É assim que realmente é para muitas de nós, a gente simplesmente não ousa falar. Para realmente ajudarmos umas as outras, precisamos ser honestas. Sentia culpa em falar que eu não curtia muito ser mãe, que desejava ter tempo pra ficar sozinha e me dedicar a minha carreira. Embora minha filha seja central em minha vida, meu mundo não gira em torno dela. Nem, creio eu, seria bom pra ela se fosse assim. Parei de me sentir culpada quando entendi que eu realmente quero que ela veja uma mãe que a ama muito, que investe nela, mas que também investe em si mesma. E que não há problema em ser a prioridade de vez em quando.

Para mim, com o tempo, passei a gostar muito mais da maternidade agora que minha filha está mais velha. Não olho para fotos pensando que gostaria que o tempo parasse e ela não crescesse tão rápido. Honestamente, mal posso esperar para nós duas sentarmos pra tomar um gin & tonic, enquanto ela me conta sobre suas aventuras e ideias. Mal posso esperar para ver a mulher que ela vai se tornar.

E sabe aquela amiga que decide não ter filhos? Vamos aplaudir, não desanimar e criticar. São mulheres com autoconhecimento e maturidade para resistir a enormes pressões sociais e escolher a vida certa para elas. A escolha de não ter filhos é admirável, não egoísta.

Se você me perguntar, eu teria engravidado novamente, mesmo sabendo – agora – a barra que é. Mas maternidade nÃo é para todas. Mesmo. E se você me perguntar amanhã, posso responder outra coisa.

Cintia Bailey é jornalista e podcaster. Está no Instagram.

Cintia Bailey

Jornalista e podcaster, trabalha com comunicação no Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra e é criadora e host do podcast Chá com Rapadura.