Phenix Caixeiral: uma biblioteca renascida
Ao andar entre as ruas do centro, é possível perceber que cada esquina conta ou desmonta um tanto da nossa história. Aprendi com a minha mãe Ivone que há duas Fortalezas: a que vejo agora e a que foi demolida (e nem sequer restou em fotos). É como andar entre desertos e ruínas. E a “Phenix Caixeiral” tem a chance de ter um pouco da sua memória celebrada. Como em um renascer de cinzas, o Plebeu Gabinete de Leitura traz o saber renovado e, nesta semana, em pré-venda, lançou a preciosa obra Phenix Caixeiral: história de uma biblioteca, de Adelaide Gonçalves e Rafaela Lima.
Phenix Caixeiral é uma das mais importantes instituições culturais e educacionais criadas em Fortaleza, em 1891, e extinta em 1979. Foi fundada como uma associação de classe, ampliou seus objetivos e fez história.
“As aulas eram ministradas à noite. Havia resistência ferrenha dos patrões em liberar seus empregados às 18 horas. Alguns comerciantes afirmavam: Caixeiro é simplesmente caixeiro; não deve, não pode ser estudante. Muitos estabelecimentos comerciais cerravam suas portas às 20 horas… Houve patrões generosos que ajudavam seus empregados”, afirma Pedro Alberto de Oliveira Silva, em seu artigo publicado na Revista do Instituto do Ceará, em 2008.
O Plebeu Gabinete de Leitura dá a conhecer a história da Biblioteca da Phenix Caixeiral. Situada no centro de Fortaleza, no começo do século XX, a biblioteca dos caixeiros contava com cerca de cinco mil livros, desde títulos publicados na Europa, até os editados em São Luís, Fortaleza, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
“Assim como o “palacete” da antiga “Sede Phenista”, derrubado pela “picareta do progresso”, a antiga biblioteca desapareceu. Algumas dezenas de títulos, contudo, foram recuperados e reunidos no acervo do Plebeu. É a história desta biblioteca que o livro conta, quando jovens caixeiros de Fortaleza, e do Ceará, corriam, depois de um extenuante dia de trabalho, em busca de “instrução e educação”, lendo e relendo, por exemplo, Máximo Gorki, Victor Hugo, Guerra Junqueiro, E. Perez Escrich, entre outros escritores. O bonito projeto gráfico e o apuro na diagramação ficaram aos cuidados de Tarciso Bezerra”, assim o Plebeu apresenta a sua obra.
Plebeu Gabinete de Leitura e Biblioteca Estadual do Ceará
Por falar em Biblioteca, convido os leitores e as leitoras a conhecer o Plebeu Gabinete de Leitura, uma biblioteca social no Centro de Fortaleza, no prédio da Associação Cearense de Imprensa (ACI). Um lugar para o repouso da alma, para o acender de chamas e o iluminar de mentes. Um espaço para esquentar o coração com saberes, leituras, poesias. Se der sorte, você ainda garante um papo transcendental com a querida professora Adelaide Gonçalves, que traz esperança em tempos tão tenebrosos. Assim, celebro o Plebeu.
Outro espaço de resistência do saber em Fortaleza, a Biblioteca Pública Estadual do Ceará (BECE) também é luz acesa. Com intensa e criativa programação online, a BECE é um farol para o conhecimento e para a cultura, e virou um espaço bonito dos encontros virtuais. Com oficinas, seminários e rodas de conversas online, convida para o prazer de um bom livro, para a importância das ciências, do saber e da fruição. Assim, festejo a nossa Biblioteca Pública.
Para adiar o fim do mundo e fazer renascer a Fênix entre cinzas, um salve às bibliotecas, aos guardiões de memória, aos sebos, às livrarias e a todes que abrem um livro e, assim, abrem também um mundo. Na fogueira do obscurantismo, das injustiças e do negacionismo, cada pessoa é um mundo, é uma biblioteca para inflar labaredas contra a escuridão, para apagar as ignorâncias.
Em uma menção à recente fala da médica infectologista Luana Araújo, afirmo: que os livros sejam rota de caminho para o bem, que nos guiem contra discussões delirantes, esdrúxulas, anacrônicas e contraproducentes. Que as bibliotecas e as ciências nos salvem, nos tirem da rota de escolha “de qual borda da Terra plana a gente vai pular”.