Boom de divórcio? Pedidos aumentam 95% na pandemia
Um ano atrás, diziam que o lockdown causaria grande aumento no número de bebês, mas eu acreditava que seria, na verdade, de divórcios
Cintia Bailey
cintia.bailey@outlook.com
Não quero nem tentar fingir que sei o que se passa na vida de um casal, mas lendo sobre a separação de Bill Gates e Melinda, algumas semanas atrás, comecei a observar que muitos casais estavam se separando durante a pandemia. Não tenho ideia do que fez Bill e Melinda se separarem.
No entanto, a Stowe Family Law – que diz ser o maior escritório especializado em direito da família do Reino Unido – anunciou que os pedidos de divórcio aumentaram 95% durante a pandemia, com mulheres constituindo a maioria das consultas. Segundo a firma, a proporção de consultas aumentou de 4.505 de janeiro a março do ano passado para 8.801 consultas entre janeiro e março deste ano.
De acordo com a pesquisa, que entrevistou 400 pessoas em todo o país, cerca de 3/4 dos casais que se separaram ou se divorciaram durante a crise do coronavírus disseram que não tinham tensões antes do início da pandemia. A principal razão citada era passar muito tempo juntos, seguida de pressões financeiras e, na mesma proporção, casais que sentiam que haviam se distanciado de seus (suas) parceiros (as) durante os últimos 12 meses.
Muito curioso ver que a incerteza da pandemia fez com que muitos casais passassem um tempo sem precedentes juntos em casa, confinados, fazendo malabarismos para cuidar dos filhos, da casa e do trabalho, preocupados com saúde, finanças, enfim, com a situação devastadora que o mundo todo se encontrava. E ainda se encontra.
Uma pesquisa realizada em abril pela instituição de caridade britânica Relate – que oferece serviços de aconselhamento para todos os tipos de relacionamento – revelou que quase 1/4 das pessoas achava seu parceiro mais irritante – com as mulheres relatando isso mais do que os homens.
Lembrei-me, então, de uma postagem hilária sobre mulheres começando a ver seus parceiros com outros olhos depois de ambos trabalharem de casa. Algumas se sentiram enganadas ao vê-los trabalhar todo dia, observar como falam ao telefone com colegas e cliente, e ver que eles não são nem competentes, nem bons no que fazem.
Uma colega de trabalho que está se separando me disse que normalmente estaria muito ocupada para notar o comportamento frio e indiferente do marido. Mas, durante o lockdown, isso ficou tão óbvio que estava difícil de ignorar. Parece mesmo que o lockdown criou um ambiente de tudo ou nada. Fico pensando se os casais que eram resilientes antes da pandemia ficaram ainda mais fortes, e os casais mais afetados são aqueles onde havia problemas antes disso tudo começar. Vai saber…
Para o bem ou para o mal, a pandemia forçou-nos a colocar uma lupa gigante sobre nossas vidas pessoais. À medida que o lar se tornou o único lugar para onde ir, sem válvula de escape, longe dos círculos de amizade, tudo ficou muito angustiante. Acredito que o que a pandemia fez foi nos fornecer lembretes frequentes de nossa mortalidade e, com isso, somos forçados a pensar mais sobre a nossa própria felicidade.
Não parece ruim, parece?
Cintia Bailey é jornalista e podcaster. Está no Instagram.