Apoie uma mulher

Uma lista de projetos incríveis concebidos e executados por mulheres do Ceará

Ivna Girão
ivnanilton@gmail.com

“Teremos o março mais triste dos últimos anos”, prevê a pneumologista Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A frase é uma narrativa da dor, do temor e das desesperanças. O colapso da vida humana pela Covid-19 tem provocado muitas vítimas. Mulheres, mães, artistas, cientistas, trabalhadoras, vidas que se perdem e desesperos que se espalham. Março nem acabou, mas nem precisa – ele já acabou com a gente.

Apesar disso, as trincheiras não se desmontam. Elas devem seguir em pé, assim como a dignidade de todas nós. A luta precisa de nós vivas. O março é das mulheres, mesmo com um triste cenário na política, na saúde, na economia e nos cotidianos.

E para tentar acender os ânimos, uma campanha que circula nas redes sociais chamou minha atenção, e diz assim: “em março, não parabenize, apoie projetos de mulheres”. Que tal apoiar uma mulher no seu trabalho, na sua pesquisa, na sua arte? Que tal ajudar que o negócio de uma mana permaneça firme?

Em tempos de isolamento rígido no Ceará, o gesto de apoiar pode ser feito de tantos modos: divulgando nas redes sociais, pedindo e comprando de casa, oferecendo uma refeição a quem tem fome, colaborando com uma rifa, pagando uma parte do aluguel, enfim, é um março de novos desafios e de construir esperanças na coletividade – quando mulheres se unem para permanecerem vivas e firmes.

E há mulherada em todo lugar, brilhando, fazendo seu nome. Um projeto que já é sucesso é o Princesinhas de Favela, idealizado por quatro jovens que dão o destaque e o valor que a cultura periférica merece. O coletivo trabalha com produção de moda, audiovisual e fotografia. É composto por Helen de Sá, de 28 anos, moradora do bairro Jangurussu, que trabalha com maquiagem há 4 anos; por Georgia Pinheiro, 23 anos, produtora e diretora; por Thais Rodrigues, ou Ruivinha, como é conhecida entre amigos, uma mulher de 22 anos, que atua na produção executiva; e por Flávia Almeida, de 26 anos, moradora da Granja Portugal, no Grande Bom Jardim, fotógrafa do projeto.

Listo aqui algumas outras ações que conheço: a tatuadora Avoante (Raquel Rocha) que, com sua pesquisa sobre cultura cearense, faz arte nas telas e na pele; a artista Mariana Marques com seu Tempo Chamado Tempo e sua poesia, espalhando emoções em tempos sombrios; a chef Marina Araújo e seu gostoso O Chamego; a cozinha e livraria Lamarca, que trazem resistências, leituras e delícias, além de Clara Dourado, sempre com boas dicas de sustentabilidade e empreendedorismo.

Permito-me ainda citar outras: as criações do Coletivo de Teatro Arremate; a produtora Peixe Mulher; a Coletiva Negrada; as artistas do Terroristas del Amor; a Ina Preta com suas soluções de beleza; a Cearafro com sua moda afro brasileira. Apresento também a Escola Carnaubal – um ambiente de expansão política na cultura – um lugar que tem feito revoluções e ofertado encontros e formações. Carnaubal está com uma rifa aberta, inclusive.

Um outro coletivo que ganhou destaque na cena cultural do Ceará e merece que a gente chegue junto é a Bruta Flor – Arte e Invenção, um espaço cultural, laboratório de criação, confluências, fruição e pensamento. O Bruta está, inclusive, com inscrições abertas para um curso de Introdução ao Feminismo Negro, que tem como uma de suas formadoras Izabel Accioly, colunista do Bemdito. É um desses lugares de reinvenção, de transformações, com curadorias e projetos com foco na produção e na fruição cultural para que negres, indígenas, ciganos, mulheres consigam espaço na arte.

Um salve para cada mulher que cria, resiste e insiste. Que batalha para ser reconhecida, ser vista, para seguir com um sonho, um projeto, para conseguir bancar a vida, botar comida em casa, cuidar dos filhos, tentar ser criativa, ser feliz e, principalmente, ter saúde em um dos março mais triste dos últimos anos.

Apoie uma mulher.

Ivna Girão é jornalista e Coordenadora de Comunicação da SECULT. Está no Instagram.