Fortaleza de ponte a ponte
Um ensaio sobre o mar e as rotinas que se desenham entre as pontes de Fortaleza
Mateus Dantas
mateusdantas5454@gmail.com
Com areia fervilhando entre os dedos, o pescador inclina-se para trás e lança a rede buscando o infinito. Como se o objeto fosse uma extensão do próprio corpo, puxa-a novamente tentando achar a recompensa e não a encontra. A água, que cobria o joelho, agora bate na cintura. O tempo passa e a quentura aumenta. Assim como a vida, a pesca requer paciência. Arremessa novamente e espera. Dessa vez o mar foi generoso, consegue contar cinco peixes. Uma cena comum em um dos bairros mais belos da capital cearense, a Barra do Ceará.
Não muito longe dali, os olhos do mar observam atentos os meninos brincando de andar sobre as ondas. Colorindo o oceano com pranchas de vários formatos. Voando alto e sendo abraçados pela maré. Titanzinho tem o surfe como símbolo de uma bandeira hasteada no alto da comunidade. Simbologia que carrega também o peso da luta por continuar morando no lugar onde nasceu.
Seja para tirar o sustento ou simplesmente molhar os pés no final de semana, desenhamos a cidade nas ondas que quebram de uma ponte a outra. Construímos lembranças que volta e meia vêm e vão no embalo das correntezas. Se perdem, se acham e se misturam. Memórias que são escritas com o sal da praia na própria pele. Um legado em forma de maresia.
Eu, como filho e neto de pescadores, sigo cultivando memórias que navegam os mares de Fortaleza. Criando imagens flutuantes que me permitam recontar histórias.
Mateus Dantas é fotógrafo. Está no Instagram e no Twitter.