Bemdito

Muitas eleitoras, poucas eleitas

Os desafios da sub-representação política das mulheres
POR Monalisa Soares
Pedro Ladeira

Na última semana, refletimos sobre o papel estratégia do voto feminino na disputa de 2022. Observamos que as candidaturas presidenciais mais competitivas têm desenvolvido estratégias para conquistar e/ou manter a adesão eleitoral das mulheres. 

Ainda nesse tema, gostaria que refletíssemos sobre um paradoxo que se delineia para esta eleição: em contrapartida à ampliação do peso do voto feminino, considerada a discrepância entre mulheres e homens no eleitorado, o cenário pré-eleitoral revela uma baixa presença de pré-candidatas postulantes aos cargos executivos. 

Segundo levantamento da Folha de São Paulo, do total de 161 pré-candidaturas lançadas para os governos estaduais, apenas 22 são de mulheres. O que representa 14%. Considerando que as pré-candidaturas se efetivem, é relevante destacar que esse número é menor que o de 2018, disputa em que foi eleita uma única governadora de estado, Fátima Bezerra (PT-RN). 

A nível federal, temos duas pré-candidaturas femininas: Simone Tebet (MDB) e Vera Lúcia (PSTU). A postulação de Tebet enfrenta duas frentes de problemas: a) a tentativa de criação de unidade no âmbito da chamada 3ª via, na qual enfrenta João Dória (PSDB) pela indicação; e b) a unidade de seu próprio partido, o MDB, em torno da decisão de uma candidatura presidencial, haja vista os interesses de lideranças regionais em apoiar Lula ou Bolsonaro. Ou seja, ainda que consiga a indicação pela terceira via, Simone Tebet poderá ter deserções entre seus próprios correligionários.

 Tais impasses para a empreitada de Tebet foram interpretados por outros presidenciáveis como a chance de tê-la como vice na chapa, algo almejado por Dória e também já mencionado por Ciro Gomes (PDT). A senadora, no entanto, tem sido enfática sobre figurar como vice em alguma chapa. Questionada, afirmou que “Se, porventura, não for o meu nome o escolhido dentro desse grupo [da terceira via], eu não serei candidata à vice-Presidência da República”. Em outra entrevista, afirmou que ir por esse caminho desmerecer as brasileiras: “Eu não preciso ser vice, eu não preciso ter esse [tipo de] protagonismo. Acho que desmereceria as mulheres brasileiras, que são tão poucas na política do Brasil”.

A baixa presença de pré-candidatas deve nos servir de alerta para os dilemas da participação política das mulheres. Este ano, a conquista do voto feminino completa 90 anos e, mesmo com a criação de legislações para potencializar a presença feminina na política, vemos que o pragmatismo dos partidos, a dinâmica de coalizões e composição de forças políticas continuam reproduzindo os efeitos limitantes para maior participação das mulheres na política. Dito isso, reconhecemos evidente o amplo caminho a percorrer entre concorrer e obter o cargo, tendo em vista as condições de competitividade. No entanto, o que queremos destacar é o impasse óbvio: se as mulheres não são candidatas, não possuem nenhuma chance de serem eleitas.

Monalisa Soares

Doutora em Sociologia e professora da UFC, integra o Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia e se dedica a pesquisas na interface da comunicação política, com foco em campanhas eleitorais, gênero e análise conjuntura.