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Quarentona, lockdown style

Aos 18, imaginava como seria a minha vida aos 40, mas hoje percebo que não existe tal coisa: estamos todos improvisando
POR Cintia Bailey

Aos 18, imaginava como seria a minha vida aos 40, mas hoje percebo que não existe tal coisa: estamos todos improvisando

Cintia Bailey
cintia.bailey@outlook.com

O início do mês de maio sempre significa um período de planejamento meticuloso para comemorar meu aniversário. Gosto de reunir o maior número de pessoas perto de mim e sinceramente adoro a sensação de comemorar mais um ano de uma vida bem vivida, sabe, sem contratempos graves.

Como se 2021 não fosse estranho o suficiente, também é o ano em que estou completando 40 anos. Então, este mês de maio tem um significado emocional muito diferente para mim. Eu estaria mentindo se dissesse que fazer 40 anos não me incomoda. Uma virada de década é sempre especial, não é? Especialmente para alguém com um pouco de TOC numérico, em que o volume da TV só pode terminar em zero: 10, 20 ou 30 – o que pode resultar em um som muito alto ou muito baixo.

Continuando a tendência, minha filha nasceu quando eu estava para completar os 30, então ela completou 10 anos este ano. Nós duas passando por marcos de aniversários em meio a uma pandemia, sem a delícia de uma festa regada a abraços, beijos e casa cheia. Enquanto minha filha está passando por uma fase de acreditar que uma conta do TikTok resolverá todos os seus problemas, sua mãe aqui não sabe muito bem o que resolveria sua melancolia de 2021.

Estou dividida. O lockdown está diminuindo na Inglaterra e tenho permissão para receber seis pessoas no meu quintal. Fico extremamente animada com a perspectiva de receber meus amigos, ainda mais se o final de maio vier com o tão desejado clima quente – depois de um abril sem graça – ou com sol. Mas, ao mesmo tempo, também quero participar de um retiro vegano com meditação e ioga, desaparecer por alguns dias e não ver ninguém. Alguém aí está sentindo o mesmo? Desejando opostos, sem alcançar algum? É desespero? Afinal, de acordo com as taxas médias de mortalidade, provavelmente já vivi metade da minha vida!

Quando eu tinha 18 anos, imaginava como seria a minha vida como uma pessoa responsável de quarenta anos. Estou apenas agora percebendo que não existe tal coisa. Estamos todos apenas improvisando, cada um de um jeito. E quando começa a crise da meia-idade mesmo? Ou, mais importante, e se esta for minha crise de meia-idade?

Um artigo da CNBC este ano lá nos Estados Unidos diz que os millennials mais velhos – aqueles nascidos entre 1981 e 1988 – começam a fazer 40 anos em 2021 e que essa geração chegou à idade adulta “em meio à Grande Recessão e Covid-19, empréstimos estudantis, salários estagnados e aumento do custo de vida.”

Uma lástima.

E, na verdade, bem interessante, já que nem sabia que me classificava como uma millennial. Vou agarrar-me a isto. Envelhecer é difícil. Levo pelo menos meia hora para me preparar pra dormir, casamentos são substituídos por funerais e sapatos agora apenas se forem confortáveis primeiro, bonito depois.

E terapia, né? Estou aprendendo aos poucos que é possível abraçar as oportunidades de escolher nossos próximos movimentos com base no nosso desejo, esquecendo a idade. Durante minhas sessões de terapia, parecia um daqueles momentos de luz que tocou de imediato a minha vida pessoal e profissional. Apenas os jovens têm permissão para viver a vida que querem? Sem desculpas. Sem exceções.

Para quem pensa que pode estar um pouco velho para fazer aquela coisa incrível porque agora parece ser tarde demais, tente por um dia deixar de lado as coisas que você tem que fazer e se concentre no que você quer fazer. É libertador ver que, se você não fizer as coisas que acredita ter de fazer, não afetará tanto sua vida assim. Mas se você começar a fazer as coisas que realmente deseja, as mudanças serão grandes.

Ou baixa o TikTok. Quem sabe?!

Cintia Bailey é jornalista e podcaster. Está no Instagram.

Cintia Bailey

Jornalista e podcaster, trabalha com comunicação no Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra e é criadora e host do podcast Chá com Rapadura.