Carta para a minha amiga trans

Meu bem, 

Que saudades. Vi uma foto recente sua no Insta e abri um sorriso: está linda, com cabelo grandão, mechas loiras, e bem cacheado. Fiquei tão orgulhosa de te ver apresentando um programa nas redes sociais, com microfone na mão, toda dona de si, brilhando mundo afora com sua competência, um orgulho danado da jornalista que você é. E fui me lembrando de tudo que aprendi contigo, dos ensinamentos que você deixa a cada dia. 

Mas, escrevo essa carta não só por saudades. Quero te pedir perdão. Perdão pelas vezes em que eu tenha faltado com afeto e compreensão, pelos abraços que não pude dar quando o medo chegou: a gente trabalhava juntas e eu pedi um tempo para me adaptar. E lembro, você chateada, com toda razão, me explicando: “amiga, te pedir um tempo para você entender minha transição hormonal e se acostumar com o meu novo nome? Não tenho esse prazo, já aguentei muito vivendo opressões que eu não quero mais”. E assim, você me ensinou sobre respeito, liberdade, identidade, amor e acolhimento. Agradeço a você pela sua força e inspiração.

Me despeço torcendo que a vacina chegue logo para a gente se abraçar, tomar um suco com bolo na Vivenda. Dona Ivone, Bento e Maria sempre perguntam por ti, a menina ainda guarda a sandália rosa e o brinquedo da Barbie que você deu.

Por fim, estamos no Mês do Orgulho LGBTQIA+ e celebro sua vida, história, coragem, amiga. Vida longa e bonita para você e para todes que pautam a sua existência na liberdade de ser o que quiserem, de corpos livres e dissidentes, de corações que voam.

Vai, amiga, o mundo é teu, e ninguém te segura. 

Beijos, 

De Ivna 

Um amor de Monstra e Beija

A vida pede coragem. Mas como seguir sendo uma mulher ou homem trans num dos países que mais mata pessoas LGBTQIA+? Sendo assim, a vida pede também justiça, respeito, acolhimento e muito amor. Falo aqui de um dos casais que mais shippo nessa Fortaleza: Monstra e Beija, uma paixão bonita e criativa, compartilham a beleza e me fazem acreditar na vida livre e compartilhada.

Por sorte do destino, estava presente quando decidiram morar juntes, procurando uma casa para alugar e construir família. Até hoje lembro o beijo que presenciei, ainda levo comigo aquele encontro de almas e o brilho no olhar. E como a rotina é cheia de tormentas, recentemente, Beija e Monstra viram um incêndio atingir sua morada, perderam a geladeira e estão com danos na parte elétrica da residência. E eu, que sempre torci muito, continuo aqui vibrando e divulgo a “Vaquinha Ajude um Casal Trans – Geladeira”. Segue o pix para quem quiser colaborar: artesmonstruosas@gmail.com. 

Para celebrar a Visibilidade LGBTQIA+ e adiar o fim do mundo, faço um novo pedido: contratem pessoas trans e travestis para trabalhar com vocês, seja na produção, na comunicação, nas artes, nas ciências.

Quantas portas você fecha com seu preconceito? E quantas oportunidades você oferta para a construção de um mundo mais justo e solidário?

E para comemorar o Mês do Orgulho LGBTQIA+, diversos equipamentos culturais realizam uma série de ações. Acompanhe a programação no site da Secult.

Viva a liberdade, viva o amor, viva a coragem e o orgulho LGBTQIA+.