Bemdito

Era uma vez, um bebezinho fofinho…

Tudo pode interferir no modo como você se relaciona com seu filho, especialmente seus perrengues financeiros
POR Yanna Guimarães

É difícil imaginar que pessoas como Hitler, DJ Ivis, Bolsonaro ou aquele seu colega de trabalho que lhe persegue tanto tenham sido o bebezinho fofinho de alguém. Quando olho para o meu filho crescendo e aprendendo nos seus quase três anos de vida – e também deixando de ser o meu bebezinho fofinho -, só aumenta a minha preocupação sobre que tipo de ser humano ele vai se tornar. A decisão de ter um filho é completamente egoísta, mas a forma como você o educa vai ser um problema para o mundo. 

Pouco dinheiro, dúvidas sobre sua carreira, a perda de um familiar. Tudo pode interferir no modo com que você se relaciona com o seu filho. E também é um fator influenciador para o comportamento dele no futuro. Um exemplo disso foi descoberto por cientistas da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Eles observaram que, quando o orçamento está apertado, os pais falam menos com os filhos. Assim, crianças de baixa renda chegam à escola tendo ouvido milhões de palavras a menos em suas casas do que seus colegas mais ricos.

“Estávamos interessados no que acontece quando os pais pensam ou experimentam escassez financeira e encontramos evidências de que tal tensão pode suprimir a fala de seus filhos. Nossos resultados sugerem que o treinamento dos pais pode não ser suficiente para preencher a lacuna de desempenho acadêmico sem abordar a questão mais ampla da desigualdade de renda”, disse o autor do estudo, Mahesh Srinivasan. 

Foram avaliados 84 pais de crianças de 3 anos. Srinivasan explicou que as intervenções existentes para eliminar a diferença na quantidade de palavras muitas vezes se concentram em melhorar as habilidades dos pais. No entanto, a descoberta dos pesquisadores sugere que aliviar os pais de seus encargos financeiros, como por meio de transferências diretas de dinheiro, também pode mudar substancialmente a maneira como eles se relacionam com seus filhos. 

Isso não significa que crianças cujos pais estão lutando financeiramente estão condenadas a ter vocabulários menores. Mas mostra que as desigualdades existem e que podemos ajudar a combatê-las. Seja tentando educar nossos filhos da melhor forma possível, seja cobrando e exigindo melhores leis. Talvez por isso seja tão difícil ouvir frases como a do empresário Flávio Rocha, dono da Riachuelo: “taxar fortunas reduz desigualdade, mas empobrece ricos”. 

Que riqueza é essa que não pensa no outro? Que não sabe que um país mais igual é melhor pra todo mundo? Tenho muito medo do que o futuro vai trazer. Mas sigo tentando não pensar tanto nos exemplos ruins e focar nas coisas boas. Lembrar-me sempre da bebê que enchia o coração da minha mãe de esperança. E ser o que ela esperava que eu fosse.