Bemdito

A eterna busca por um sono de elite

O que a ciência relata sobre o privilégio de dormir bem
POR Yanna Guimarães

Você se considera um dorminhoco de elite? Aquela pessoa que precisa de 4 ou 6 horas por noite para ter uma recuperação plena do dia? Se você é como eu, que precisa de longas 8 horas para ficar bem, dormir menos que isso é quase sempre sinônimo de uma noite ruim. Dormir mal traz irritação, dor de cabeça e até mesmo comprometimento nas atividades do dia seguinte. Um estudo da Universidade da Califórnia – San Francisco mostra que, na verdade, essa elite do sono é fruto da genética. 

Algumas pessoas são dotadas de genes que reúnem os benefícios do sono em uma janela de tempo eficiente. Essas pessoas mostram resiliência psicológica e resistência a condições neurodegenerativas que podem apontar o caminho para combater doenças neurológicas. “Existe um dogma no campo de que todo mundo precisa de oito horas de sono, mas nosso trabalho até o momento confirma que a quantidade de sono que as pessoas precisam difere com base na genética”, disse o neurologista Louis Ptacek, autor da pesquisa. 

É como uma característica física, como a altura. Não há uma quantidade perfeita de altura, cada pessoa é diferente. Assim ocorre com o sono. A equipe de Ptacek vem estudando essa característica de sono curto natural familiar há uma década. Até agora, identificaram cinco genes em todo o genoma que desempenham um papel na ativação desse sono eficiente. Isso significa que menos tempo gasto dormindo de forma eficiente pode não equivaler à falta de sono.

Compreender os fundamentos biológicos da regulação do sono pode identificar medicamentos que ajudarão a evitar problemas com distúrbios do sono. Além disso, melhorar o sono em pessoas saudáveis pode sustentar o bem-estar e melhorar a qualidade do tempo. Ainda há um longo caminho pela frente, mas já há promessas em alguns dos poucos genes que eles identificaram. A esperança é que, na próxima década, ajudem a facilitar novos tratamentos para permitir que pessoas com distúrbios cerebrais tenham uma melhor noite de sono.

Outro estudo divulgado esta semana, publicado na edição atual da revista PNAS, confirma a necessidade de fechar as cortinas e apagar todas as luzes antes de dormir para que se consiga uma boa noite de sono. Isso porque a exposição a uma iluminação ambiente moderada durante o sono – mesmo sendo apenas uma noite – prejudica a função cardiovascular e aumenta a resistência à insulina na manhã seguinte. 

Já existem evidências de que a exposição à luz durante o dia aumenta a frequência cardíaca por meio da ativação do sistema nervoso simpático, que acelera o coração e aumenta o estado de alerta. Dessa vez, os investigadores descobriram que a resistência à insulina ocorreu na manhã seguinte às pessoas dormirem em uma sala iluminada. A resistência à insulina ocorre quando as células não respondem bem à insulina e não podem usar a glicose do sangue para obter energia. Para compensar, seu pâncreas produz mais desse hormônio. Com o tempo, o açúcar no sangue aumenta.

Na hora de dormir, não esqueça: 

– Não acenda as luzes. Se você precisar ter uma luz acesa (que os adultos mais velhos podem querer por segurança), faça uma luz fraca que esteja mais próxima do chão.
– A cor é importante. Âmbar ou uma luz vermelha/laranja é menos estimulante para o cérebro. Não use luz branca ou azul e mantenha-a longe da pessoa adormecida.
– Tons de escurecimento ou máscaras para os olhos são bons se você não puder controlar a luz externa. Mova sua cama para que a luz externa não incida em seu rosto.

Meu quarto é muito claro? “Se você é capaz de ver as coisas muito bem, provavelmente está muito claro”, explica Phyllis Zee, chefe de medicina do sono da Northwestern University Feinberg School of Medicine e autora do estudo.

Yanna Guimarães

Jornalista e mestre em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova de Lisboa.