Bemdito

Querida mamãe

Estudo tenta explicar a saudade e mostra que ela é importante para perpetuar as lembranças e fazer nossa vida ter mais sentido
POR Yanna Guimarães
Saudade (Almeida Júnior)

Desde a semana passada, tenho sido absorvida pela saudade. Vez ou outra, preciso parar o que estou fazendo e chorar um pouco. Amanhã – 20 de agosto – já são dois anos sem a mamãe. E justo nessa época, tivemos que deixar e esvaziar a casa que foi um lar para mim por 26 anos. Tudo lá tinha a cara dela. Mas era preciso dar início a uma outra fase e permitir que uma nova família fosse feliz naquele lugar tão especial. 

A saudade funciona como uma resposta imunológica psicológica, conforme mostrou um estudo da Universidade de Southampton, de 2018. Isso porque é um sentimento que surge quando passamos por dificuldades e funciona como um mecanismo de defesa. Por isso, a saudade pode ser importante para dar uma sensação de auto continuidade e ajudar a criar uma narrativa de sentido para a vida. Uma conexão com o passado para compreender melhor o presente.

O luto é um processo muito difícil. Especialmente quando é alguém muito próximo. É muito louco não ter mais aquela pessoa para conversar e pedir uma opinião, ou simplesmente contar uma novidade boa. É como um vício que você precisa deixar. Tem a fase mais aguda, mais complicada. As primeiras datas sem a presença dela. O crescimento do neto que ela não vai acompanhar. Os momentos que você queria tanto compartilhar. 

Com o passar dos dias, dos meses, as coisas vão voltando mais ao lugar. A saudade sempre vai estar lá, acompanhada dos ensinamentos e de tantos momentos bons. É como se você honrasse tudo que aquela pessoa fez por você simplesmente lembrando dela. Sabendo que ela está perto de alguma forma. Quando a pessoa em questão é um dos seus pais, permitir que a sua vida seja realmente a continuidade da dela faz com que as peças se encaixem mais.

Saudade é clichê. Mas quem sente saudade precisa dessas palavras para passar por esse processo tão diferente de tudo que é “perder” quem você ama. Digo “perder”, mas sei que não perdi você, querida mamãe. Você está sempre nas minhas decisões, nas minhas alegrias, nas minhas conquistas, nas minhas dificuldades. Vou fazendo assim e a vida ganha mais sentido. Em tudo.

Yanna Guimarães

Jornalista e mestre em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova de Lisboa.