Quem tem medo das pesquisas eleitorais?
Na última semana, veio a público o cancelamento, por parte da XP Investimentos, da divulgação de pesquisa contratada junto ao Instituto Ipespe. De acordo com a jornalista Monica Bergamo[1], o motivo seria o fato da sondagem mostrar o ex-presidente Lula à frente de Jair Bolsonaro na disputa presidencial, algo que, diga-se de passagem, já havia sido confirmado pelo Instituto Datafolha[2] e também pelo Instituto Quaest[3]. Este último levantamento, vale ressaltar, foi divulgado na mesma semana que seria apresentada a XP/Ipespe.
É relevante destacar que a censura deste caso não constitui um fato isolado. Há em curso a proposição de ações mais incisivas de controle dos agentes políticos sobre as pesquisas eleitorais. Tramita no Senado Federal, já tendo sido aprovado na Câmara dos/as Deputados/as, o projeto de Lei Complementar 112/2021, que propõe mudanças na legislação eleitoral, no qual figura a exigência de um “taxa de acerto das pesquisas” e dispõe sobre prazos para divulgação das mesmas. Entre estes itens, o mais questionado pelos institutos e pesquisadores/as é a tal “taxa de acerto”.
Considerando que as pesquisas eleitorais não são prognósticas, mas retratos do momento, como medir sua confiabilidade pelo resultado final da eleição? Isso seria desconsiderar a dinamicidade do comportamento eleitoral e não reconhecer que o papel das pesquisas é contribuir com o universo informacional do eleitorado.
Tanto alvoroço em torno da divulgação de pesquisas de intenção de votos ocorre pelo reconhecimento de seus efeitos. Assim, ainda que os/as diretores/as dos institutos apontem que se trata de um retrato do momento e que há um caminho entre esta intenção e a consolidação do voto na urna, os atores políticos estão atentos a como elas atuam na percepção do eleitorado sobre a disputa e o seu peso na influência do voto.
Cabe ressaltar que constituindo as pesquisas eleitorais um dos fatores que mobilizam a escolha eleitoral, a aprovação de tais iniciativas legislativas traria como resultado apenas uma menor circulação de informações que se pautam em critérios científicos. Haja vista que não há como impedir a circulação de outras informações que também podem impactar o processo eleitoral, recebidas pelo o eleitorado via noticiário, redes sociais e outras interações.
O caso que citamos no início é exemplar dessa preocupação dos agentes políticos com a influência das pesquisas eleitorais. Considerando a motivação apurada pela mídia, podemos observar o caráter estratégico da suspensão: frear a construção de uma percepção sobre a inevitabilidade da vitória de Lula, o que pode mobilizar a campanha pelo voto útil no 1º primeiro turno, a qual já vem movimentando as redes sociais nas últimas semanas.