Não tô mais com medo, tô com Pedro
![](https://bemditojor.com/wp-content/uploads/2022/02/foto-curta-Pedro--1568x1045.jpg)
“É preciso uma criança para cuidar de uma vila”.
Escutei, recentemente, essa frase, dita por Lua Barros, um diálogo com um provérbio africano que versa exatamente o contrário – “é preciso uma vila inteira para criar uma criança”. E penso assim: sem a infância, não há aldeias possíveis. Vou mais além, não há uma Fortaleza imaginável sem Pedro.
Pedro é o menino que nos convida a passear, por entre becos e vielas, pela comunidade Santa Filomena. E no dia 26 de fevereiro, às 18h, será lançado o curta-metragem Pedro, realizado e dirigido por Leo Silva. O filme terá sua primeira exibição ao ar livre, no Jangurussu, onde o filme foi rodado. O curta traz a história de uma infância passada, conectada a vivência do diretor, tentando mostrar, nas entrelinhas, um resgate histórico sobre a comunidade em que cresceu.
A partir do olhar de “Pedro”, é possível acompanhar, no filme, seu trajeto diário, desde o jogo de videogame, até o momento em que “Dona Lívia”, personagem que faz a mãe do garoto, o pressiona para ir pra escola. A história é uma pequena lembrança do diretor Leo Silva, que é nascido e criado no Santa Filomena, “a proposta do curta é trazer, a partir da infância, um olhar sobre a comunidade, trazendo um leve resgate do que vivenciamos. No caso, o personagem principal, é referente a um amigo meu que já se foi”, diz. O curta é todo feito em conjunto com a comunidade, os personagens principais e figuração são pessoas dali, uma obra feita com o pé no chão, com o brincar na rua, com a amizade de bairro.
Como canta a canção, “eu agora não tô mais com medo / Tô com Pedro / Eu agora já tô mais com Pedro / Do que com medo”, a obra traz o valor da vida em comunidade, a beleza de se estar em coletivo, mas revela também o medo da morte ou de “coisa parecida”, mostra o encontro, desde novo, com a bala e o tiro. É um filme que brinca na rua, que se senta na calçada, compra pão na budega, celebra a festa na quebrada, reúne a meninada para jogar bola no Campo do Curitiba, são os Meninos de Deus.
Penso em Pedro, rezo por Pedro. Que ele já tenha se vacinado, que esteja na escola e consiga um dia de paz. Não é fácil a vida de Pedro, não é fácil a vida da infância que cresce na periferia, numa pandemia e num pandemônio. Sem acesso à educação, entre o tráfico e a bala, com dificuldade de acesso à saúde, ao transporte público, sem saneamento adequado, sem comer. Que bom que temos Leo que nos conta sobre Pedro e nos ensina a não termos medo. Um viva ao cinema feito na periferia, feito na marra, mas com beleza e coragem. É preciso um Pedro para cuidar de uma vila. Saiba mais sobre no instagram @pedrocurtametragem.