Curta o Gênero
E se homens e mulheres não tivessem papéis distintos atrelados ao gênero?
O que queremos dizer com essa categoria mulher?
Sou mulher. E descobri, recentemente, que estou gerando uma outra. Grávida pela quarta vez. Pilar vem ao mundo em novembro. Sinto, no corpo e na vida, a maternidade, e os papéis e os lugares que me são impostos. Diariamente, reflito sobre isso e penso em como isso me define. Nas rotinas, decisões, trabalhos, estudos, nas sobrecargas de tarefas, nas oportunidades, negações e privações, nas belezas… Enfim, o mundo sempre reafirma, ora de forma generosa, ora violenta, a mulher em mim.
Nem sempre é confortável, muitas vezes é dolorido, transformador. Assim, em um encontro bonito, eu vou engravidando também de outras reflexões. Estou lendo a socióloga nigeriana Oyèrónké Oyewùmí e me encanto quando ela aponta, em A Invenção das Mulheres, que “a hierarquia baseada no gênero não existia entre os iorubás”. Como seria? Que bom seria! Gestando, eu vou construindo e desconstruindo as várias que nascem e morrem em mim.
Pilar não chegou ainda, mas já faz várias travessias. Para celebrar essa nossa viagem, lembro a jornalista espanhola Pilar Del Rio, que ganhou, do marido Saramago, essa linda dedicatória em As Intermitências da morte: “A Pilar, minha casa”. E tem um momento na vida do casal que acho tão bonito: quando foram morar na ilha de Lanzarote, ao entrarem na sala, pararam o relógio na hora exata, e nunca mais o fizeram funcionar – queriam se lembrar sempre daquilo. Pilar vem para realinhar, em mim, até o passar dos minutos.
Por falar em gênero e outros debates, aproveito para fazer um convite. De 10 a 29 de agosto, tem início, em formato online, o Festival Curta o Gênero. O evento é uma realização da Fábrica de Imagens (por meio das Ações Educativas em Cidadania e Gênero), que promove a sua nona edição. Nesta, apresenta uma ampla grade de atividades, completamente gratuita, no YouTube, site oficial e Instagram.
Um dos espaços mais incríveis para novos diálogos, o IX Curta o Gênero já é tradição no calendário cearense. A programação conta com as mostras artísticas Expressões de Gênero, Contrastes, Som das Cores e Gênero em Cena, além de um Seminário Internacional, uma Mostra Audiovisual Internacional, o evento Diálogos Convergentes, o lançamento de livros, além de Colorindo o Gênero, Feira e Flash Tattoo.
Para fazer nascer novas mulheres e para adiar o fim do mundo, celebro uma outra sociedade possível – mais justa, sem racismo, machismo, lgbtfobia -, que consiga receber nossas meninas com mais respeito, que cada uma seja festejada por sua potência, que o medo abandone os caminhos, a vida seja protegida. Por um viver livre, diverso, plural.
Viva Pilar! E viva o Curta o Gênero!