Bemdito

Remédio para homem devagar

Algumas explicações possíveis para a dificuldade masculina de desencruar e se resolver nos relacionamentos amorosos
POR Mariana Marques
Henri de Toulouse-Lautrec, Absinthe

Algumas explicações possíveis para a dificuldade masculina de se resolver nos relacionamentos amorosos

Mariana Marques
marianamarquesb@gmail.com

Você nasceu quando? Baseado nesse ano, saberia dizer se é geração X, Y ou HD? 

Sim, HD! A geração do Homem Devagar. 

Dizem que ser devagar, na verdade, não tem a ver com o ano que se nasceu, porque é uma questão tem atravessado gerações. 

A geração HD é aquela que casa com a amiga de infância, porque demora tanto pra dar o primeiro beijo que chega o tempo de querer casar. Foi o que concluí após um pensamento de uma amiga, dando um conselho a outra: 

–  Mulher, o problema não é você. Ele é devagar porque ele é devagar. Essa esposa que ele teve deve ter sido a primeira namorada, pois só assim teria dado tempo desse homem se resolver. 

Fiquei pensando: você pode achar que esse homem não quer nada com essa gata, e que é mais um em milhão que fica cozinhando meia dúzia de homens, mulheres e plantas, e não assume nenhuma. Mas né não, amiga. Baseado nos relatos que ouço de muitas mulheres ao meu redor, e das experiências que tive (significativas): tem homem que é só devagar. 

Não consegue achar as palavras certas pra dizer. E tem uma parte que acha que não sabe quais são as palavras certas. Tem outra que faz pior, na pretensão de achar que as palavras certas existem. 

Dois invernos, Fortaleza alaga, o canal da Eduardo Girão transborda, centenas de milhares de pessoas se vão, e a pessoa não cria coragem pra dizer o que sente em sentenças claras. 

E aqui não faço um texto para me queixar, pois aprendi em algumas aulas de coach literário que se tem uma palavra que não constrói nada é desabafo. Pense num conglomerado de vocábulos que só faz pesar a energia do mundo. Desabafar é como semear melancia na terra vermelha em abril. Você vai perder todas, TODAS as sementes. Venho, portanto, propor uma solução: 

Avie. 

Um homem (cis ou trans) devagar pode, sim, não querer nada com você. Mas meu amigo e minha amiga e minha amigue: seja claro. Diga a que veio já que ele não diz, e, se não der em nada, se ele perguntar se você tá tresvariando, diga que sim, que o Corote de Framboesa não bateu legal. 

A questão é que, se você não falar português, não perguntar claramente (pode ser baixinho, fazendo charme) o que diabo é que aquele cristão está fazendo ali, você vai fazer 7 folhas de lattes e a pessoa não toma uma iniciativa. 

É normal que alguém me questione se é um problema de gênero: mas não tem mulher assim, também? 

Tem, mas a gente tá nesse momento falando de homem. 

O fato é que há um povoado que me lê, um monte de amigo e amiga se comunicando por cartas de whastapp com um rapaz, esperando o tempo dele. (Beleza, há gente esperando o tempo bom de uma mulher indecisa também. Mas é mais raro, porque mulher resolve as coisas). E o que a gente precisa fazer é tentar o mais difícil: se comunicar. Como disse nosso friend Max, essa semana: 

Oh rapaz. 

Era eu brincando. Senão vai chegar sua aposentadoria e aquele café, mesmo tirando a máscara só pra dar um gole ou se agarrar, não vai acontecer nunca. 

Dá tempo o Bolsonaro matar você de raiva (e ninguém poder comparecer ao seu velório) e esse beijo não sai. Confie em mim.

Mariana Marques é publicitária e artista plástica. Está no Twitter e no Instagram.