Bemdito

Uma Fortaleza labiríntica

Dois projetos para descobrir a Fortaleza que nasceu durante a pandemia
POR Ivna Girão

“O encontro entre uma pessoa que foi expulsa de casa com outra que mudou de país”. Li essa frase na internet e ela encaixou perfeitamente com o que estou vivendo agora nessa nova maternidade, o binômio da Ivna-mãe com a Pilar recém chegada, o tal do puerpério. Todo dia eu acordo labiríntica, confusa, atordoada, é como se uma outra de mim tivesse morrido e uma nova estivesse descobrindo sua outra pele, um período estranho que se agravou com a pandemia e com o pandemônio, vivo perdida de mim. Para tentar me achar, peguei a bicicleta e fui dar uma volta, procurar encontrar lugares familiares, esquinas que me lembrassem algo, ruas que me levasse para o fim desse labirinto. Não achei. 

É isso: eu não sou mais a mesma, e nem Fortaleza é mais a mesma. Isso é bom? Achei! É legal estranhar, é interessante olhar para algo como se fosse a primeira vez. E segui na bicicleta como quem anda com olhos de outros, meio turvo esperando alguma novidade! Eu só consigo escrever o que sinto. Por isso, falo do meu puerpério e do meu espanto com a cidade labiríntica, confusa, sinuosa, intrincada, tortuosa. É legal se perder e se achar, criar rotas para além da Praia de Iracema, para além do centro, da Aldeota, do bairro de Fátima, enveredar por outras praias, paragens, por tantas quebradas, fazer o corre e tomar uma cerva nas perifas, sair do centrão e percorrer a geografia por fora, de beira, na tangente dos encontros, das alamedas, dos becos e ruelas. Fui. Gostei. 

E apresento aqui dois projetos que conheci recentemente e falam dessa outra Fortaleza, fique feliz em saber das iniciativas que ligam a cidade com as ancestralidades, com suas periferias e raízes, que destoam dos velhos circuitos e abrem novas janelas e horizontes. 

Ruas Indígenas 

É uma ação que pretende (re)contar memórias dos povos originários através das ruas com nomes indígenas da cidade de Fortaleza, realizando intervenções que busquem suscitar reflexões sobre a presença dos povos. O Projeto é fomentado com recursos da Lei Aldir Blanc – por meio da Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza – e tem como ponto de partida a cartografia das ruas com nomes indígenas na Praia de Iracema. Que rua te atravessa? Que memória caminha contigo? Que história você quer conhecer? Essa é a ideia! Vamos juntes dar um rolé na rua Ararius, na Guanacés, na Potiguara, Tremembé, Tabajaras. Partiu. Conheça mais no instagram @ruasindigenas. 

Toda Periferia é uma Fortaleza

Outra ação interessante nessa descoberta por novos olhares e territórios é o projeto “Toda Periferia é uma Fortaleza” que realiza, em Fevereiro, uma Mostra mostra híbrida, pública e gratuita com a participação de artistas da periferia de Fortaleza. A finalidade da ação é “fortalecer, dar visibilidade e divulgação aos trabalhos de artistas da periferia, bem como destacar a diversidade de cenários culturais, sociais, políticos e econômicos que permeiam as suas produções”, afirmam os realizadores. Sugiro dar uma olhada nas redes sociais e conhecer mais, tem cada artista roxeda nesse rolé, bora?! Conheça mais no instagram @todaperiferiaeumafortaleza. 

Para adiar o fim do mundo e fazer a gira girar, sugiro passeios de bike ao fim da tarde na busca dessa Fortaleza de labirintos, de se perder e se achar. Vamos? Se você conhece mais projetos bacanas, sugere pra mim. Bom passeio!

Ivna Girão

Jornalista, historiadora e escritora, é coordenadora de comunicação da Secretaria de Cultura do Ceará.