Rodrigo Tremembé: o vestir também é político
Entre croquis de moda, pincéis coloridos, pinturas de urucum e jenipapo. Nesse universo da arte, o jovem indígena Rodrigo Tremembé, da Aldeia Córrego João Pereira, no Ceará, desenha e apresenta, a cada novo traço, suas criações. Presente nas redes sociais, ele convida a conhecer mais o seu povo, postando, no Instagram e no TikTok, pinturas de suas obras, modelagens de vestidos, peças – ora mais simples, ora mais sofisticadas.
Traz, para o centro dos palcos, luzes e encantos para os grafismos indígenas. São vestidos, camisetas, bolsas, indumentárias, que, com ancestralidade e inovação, apresentam a cultura Tremembé. Em uma de suas postagens nas redes, Rodrigo indaga: “O vestir também é político. Que História sua roupa conta?”
Ao falar de moda, o jovem indígena Tremembé faz travessias bonitas nas suas redes sociais mostrando a sua rotina na Aldeia, os bastidores das criações das peças, as inspirações das matas, as cores do urucum e as geometrias dos grafismos que saltam para o papel e logo viram vídeo que fazem sucesso entre os parentes nas redes sociais.
Rodrigo proporciona aos seguidores uma experiência íntima na sua criação, um mergulho na cultura indígena e uma vivência lúdica e até bem humorada sobre os preconceitos, os racismos que ele denuncia na sua condição de existência indígena. Não podemos esquecer: ele é um jovem que, além da militância política e da sua arte, performa e brinca com todas as modas e tendências dos aplicativos, nas edições e nos engajamentos, ele se revela um “influencer”.
Em um mesmo dia, nas redes sociais, Rodrigo faz postagens, em vídeo, denunciando violências contra seu povo – chamando para ações do movimento indígena -, brinca com “modinhas” do TikTok rebatendo racismos que ele sofre por ser indígena, comenta sobre os lugares de fala e, minutos depois, posta um croqui de vestimenta inspirado em grafismos. Um movimento importante de se observar: as suas criações de moda dialogam, de forma intensa, com o seu eu-político, em uma dança sincronizada entre vivência e invenção.
Como quem bate o pé no chão, canta e dança em uma roda de torém, Rodrigo sente a proteção e a inspiração dos encantados a cada nova criação. Ele vive na Aldeia e sua arte traz toda a sua encantaria, é nascida no terreiro, é pintada no Córrego do Rio, é parida pelas suas ancestralidades.
Ressalto aqui uma postagem em que ele apresenta um croqui de moda indígena, celebrando uma artista Tremembé, a Navegante. “Representação de Resistência. Grafismo de uma artesã de meu povo, essa mandala/estrela foi feita por Navegante na década de 90 e se destaca de todos os Grafismo que já vi, nós, TREMEMBÉ de itarema, somos povos da terra e do mar”.
Para celebrar a arte feita por Rodrigo e para adiar o fim do mundo, festejo a vida vibrante e criativa, essa juventude que cria e se comunica, que faz valer sua voz, que é protagonista da sua história. Viva a cultura e a moda feitas no barro do chão, na aldeia e no terreiro!