Chá das quintas apresenta: Flávia Fontenelle

Ator transformista e integrante do Coletivo Artístico Divas, Flávia Fontenelle é uma das estrelas mais carismáticas e polêmicas de sua geração

Tatiana Hilux
dario.conde2000@gmail.com

// Tatiana Hilux // Seu nome quase sempre está na boca do povo, isso te incomoda?

// Flávia Fontenelle // O que verdadeiramente me incomoda são as inverdades e os exageros. Estar na boca do povo tem dois lados, dois pesos e duas medidas. Isso pode te influenciar positiva ou negativamente. Eu dei muito motivo para isso, mas busco superar os maus comentários com o melhor de mim: meu trabalho.

// Tati // Fale um pouco dos seus primórdios no Henrique Jorge, amizades, Garota G…

// Flávia // Lá iniciou tudo. Basicamente, aprendi o que é ter uma mãe e uma madrasta. Tive muitas alegrias, o impulso que eu precisava para deslanchar minha carreira. O coordenador do concurso foi mãe, pai, tio, irmão, formador. Ele me moldou e me ensinou que existe o momento de recuar e se focar em si, no nosso crescimento pessoal. Elas estão juntas até hoje. A turma de lá. É lindo isso. O Garota G foi meu nascimento pro mundo. Foi superar as primeiras expectativas. Muitas passaram a me desacreditar, mas sou a Garota G 2001, produzida por Rebeca Evans. O concurso me encorajou a usar o melhor e na época foi muito gratificante abrir caminho para outras meninas.

// Tati // Lembro de um show seu de aniversário num teatro. Como era a sua relação com sua família e como é agora? Você sofre homofobia?

// Flávia // A homofobia está intrínseca em atos, demonstrados de diversas formas, sempre culminando na agressão física, psicológica, verbal. O que minha família passou comigo foi falta de informação. Diálogo é muito importante. O suporte de pai e mãe, imprescindíveis. Sofri preconceito por ter aparecido de mulher na televisão. Uma prima minha ligou para pessoas da família dizendo que eu estava com falta de vergonha. Fui isolado. Eu me isolei, na verdade. Estava precisando pensar sobre como foi perder o acolhimento dos meus primos que eu amava. Hoje está tudo diferente. As relações estão melhores. Existe diálogo, companheirismo.

// Tati // Sua pessoa tem sempre uma fala expressiva sobre a política. Com o que você discorda na conjuntura atual?

// Flávia // A negligência do governo federal em realizar ações eficazes no combate à pandemia. Nós temos um presidente, ou um garoto mimado da 3ª série, que só quer resolver os problemas do país quando ele quiser e que mente descaradamente na cara do povo brasileiro. É protegido por uma corja de políticos cheios de denúncias de corrupção, má conduta social, e eles que são os cidadãos de bem? O cenário atual é preocupante, pois apresenta uma tensão pré-ditadura, através de um golpe de estado.

// Tati // Quem você cancela e para quem você tira a peruca no mundo artístico de Fortaleza?

// Flávia // Eu cancelo a disputa, o ódio, a homofobia internalizada. Eu cancelo a falta de diálogo, aquilo que não vai nos agregar o positivo da vida, o laço das relações humanas. Tiro a peruca a todas as artistas que estão sobrevivendo nesta pandemia, que conseguiram continuar vivendo, saindo da zona de conforto para levar arte e cumprir nosso ofício.

// Tati // Como estão os preparativos para o próximo Top Gay Ceará?

// Flávia // Estou esperando uma grana melhor entrar. Mas já discuti com a Fernanda como vai ser tudo. Meu traje típico vai ser bem interessante. Vai falar sobre costumes e política. O vestido está sendo adaptado para o meu corpo e estará disponível para aluguel depois de mim.

// Tati // Gratidão pelo seu tempo e interesse, amiga… Qual a mensagem que você deixa para os bemditos leitores?

// Flávia // Sejamos agradecidos pela nossa vida, nossa saúde. Agradeçamos por estarmos vivos, que será o suficiente para Deus. Bju no coração de vcs.

Tatiana Hilux é artista transformista. Está no Instagram.