Bemdito

A invisibilidade do design e de designers

Pensa rápido! Me diga o nome de alguém do design gráfico
POR Juliana Lotif
(Foto: Honza Vojtek)

É fato que existem designers gráficos populares, com nomes que ficam no nosso imaginário. Quem viveu os anos 1990 lembra de Hans Donner, o icônico designer da Globo. Vinhetas, aberturas de novelas e a própria identidade visual da emissora foram criadas por ele e sua equipe.

Mas e os designers gráficos do nosso dia a dia? Dos rótulos, das sinalizações, dos jornais, dos livros, dos cartazes, dos perfis das marcas que seguimos nas redes sociais?

A invisibilidade do Design foi e ainda é um assunto muito comentado na academia. Uma das teorias mais difundidas sobre o tema é a Taça de Cristal de Beatrice Warde. Para essa famosa tipógrafa americana atuante nos anos 1930, a tipografia (entendida na época como o projeto gráfico do livro) deve ser invisível ou transparente como uma taça de cristal que comporta um vinho, no caso o conteúdo do livro.

A ressaca de tantas taças de vinho na história do design é a invisibilidade também da profissão e de profissionais do design. Essa relação de forma invisível para conteúdo ressaltado esmaece também o próprio design. A forma e o conteúdo já foram tema dessa coluna e estão sempre em questão na área. Entender que a forma comunica, que a forma é conteúdo e que designers são projetistas de artefatos completos e não apenas da camada de embelezamento da peça, torna perceptível o trabalho de designers. Isso faz com que o grupo de profissionais mereça o reconhecimento tão necessário para a valorização da profissão.

Conhecer quem faz, como faz, em quanto tempo e com quais recursos traz a noção de que o fazer no design não é algo mágico, que surge em um click, de uma inspiração ou de um dom. Tirar designers e seus processos da invisibilidade demonstra que existem métodos, técnicas, custos e, na maioria dos casos, uma equipe de profissionais para que um projeto se materialize e chegue ao público.

Que cada vez mais possamos identificar quem faz as coisas que consumimos e que tenhamos paciência (e vista boa) para ler as letrinhas pequenas dos créditos. São pessoas, profissionais, trabalhadoras e trabalhadores que estudam, se dedicam, pensam, fazem e mediam nossa experiência com o mundo através dos artefatos gráficos.

Juliana Lotif

Comunicadora social e designer, é professora de Comunicação Visual na UFCA. Mestre e doutoranda em Design pela ULisboa, foi coordenadora de cursos de graduação e pós-graduação em Publicidade, Jornalismo e Design.