A maternidade que aprendi com os polvos
Na véspera do Dia das Mães, o que o documentário Professor Polvo ensina sobre afeto e maternidade
Por Ivna Girão
ivnanilton@gmail.com
Maio é o mês das mães, e para além das propagandas “clichês” na tevê que me fazem chorar, é o abraço dos meus filhos que me faz emocionar. Enquanto eles brincam na sala, me sento no sofá e me distraio com a beleza do documentário Professor Polvo, premiado no Oscar.
No filme, um mergulhador na busca do abraço de um animal selvagem. E como novidade, aprendi que o polvo tem sua cognição nas terminações, nos tentáculos: ele sente e entende a vida no toque: já pensou apreender o mundo acariciando com dois mil dedos-ventosas?
Sinto a maternidade, assim: no toque, no abraço, no chamego, no cotidiano que deita o amor no colo, que se enrosca na rede para dormir, que se afaga no peito para se alimentar.
É além mar, é saber nadar com o céu acima do sol, é quase se afogar de tanto amar, é cansar esperando a margem chegar, é perder o fôlego e, num sossego, encontrar de novo um respiro para remar. É a terceira margem do rio. É o curso da água, é se movimentar livre na criação deles e na reinvenção nossa. Foi essa a maternidade que aprendi com os polvos.
Sinto muita falta de nadar. Mas, com os meus filhos, mesmo longe dos oceanos, reinvento, diariamente, o sentido de mergulhar. Sem romantismo, falo: não é fácil, mas sem eles seria impossível. Como canta Maria Bethânia, “debaixo d’água tudo era mais bonito, mais azul, mais colorido, só faltava respirar. Mas tinha que respirar”.
Nos jornais, médicos recomendam que mulheres adiem a gravidez por conta da pandemia. Mas a vida sempre pede passagem e não espera por dias-melhores-virão. Nas redes sociais, entre obituários e fotos de luto, vejo, com alegria, as amigas anunciarem esperanças: a gravidez é como flor que “rasga” o asfalto, porque o novo teima em sempre chegar e fazer semente para a felicidade abraçar.
Aqui, celebro cada mulher que traz um novo filho no ventre. Eu desejo proteção e vacina. E cito algumas que me presenteiam com seu gestar: as jornalistas @policostas e @moniqueoa, a prima querida @vanessacordeiroc, a @larissa_rodrigues_quilombola. E festejo também as mães que, assim como eu, receberam a maternidade junto com a pandemia. E, num grupo de WhatsApp, somos companhia: @camilagarciacoelho, @rehgauche, @roberta_franca, @raquelshonorio, @nayanamisino, @stelacamara, @cyfortuna_, @lu_rodriguezz e Anne Carolyne.
Na outra ponta do remar da vida, faço minhas orações para as mães que perderam seus filhos e filhas nesta pandemia. O Ceará que chora a triste estatística de 27 cidades que tiveram mais registros de óbitos do que nascimentos em 2021. Peço que, a cada dia, façamos rezas por essas famílias. Cada vela acesa no peito é um tanto de fôlego nos pulmões. No dia das mães, o presente é saúde, vacina e amor.
Por fim, sobre a maternidade que aprendi com os polvos, trago um trecho bonito do documentário: “Me apaixonei por ela (polvo), mas também pela enorme selvageria que representa e como aquilo me mudou. Ela me ensinou a sentir”. E viva a maternidade sentida, vivida. A mãe é o nosso primeiro oceano.
Ivna Girão é jornalista e Coordenadora de Comunicação da SECULT. Está no Instagram.