Analisar o social é correr riscos
É inequívoca a oscilação das análises sociais entre as forças da ação do indivíduo e as influências das estruturas seculares ou emergentes. Eu mesmo decido minha vida? Ou o que eu tenho feito é nada mais que reproduzir ações em mim inculcadas pela exterioridade? Igreja, escola, família, redes, grupos pesam mais na balança que o minha individualidade? Quem dirige meus pensamentos e orienta minhas ações? São questionamentos tão investigados pela sociologia.
Para a análise do social, o sociólogo Jeffrey C. Alexander descreve o “movimento pendular” que oscila entre micro e macroteorização, individual e coletivo. Tal movimento nem sempre ocorre com suavidade garantida, embora, para o autor, a saída seja o imbricamento:
“Persistem entre eles desacordos fundamentais, mas há um princípio fundante em relação ao qual todos estão de acordo: a micro e a macroteoria são igualmente insatisfatórias; ação e estrutura precisam ser agora, articuladas.”.
Ok, aqui faz sentido a máxima aristotélica de que “O todo é maior do que a simples soma das suas partes.”. Porém, para que possamos realizar qualquer análise social, sobretudo aquelas mais profundas, temos, quase sempre, de nos condicionar e filiar a alguma corrente posta. Em outras palavras: “você fala em nome de quem?”.
Nesta ação, excluímos uma parte (ou várias) e afirmamos um compromisso, decisão que resvala até mesmo na linguagem a qual recorremos para descrever o que vemos e ouvimos. Ou seja, a tal soma das partes não é assim tão simples.
“As próprias descrições dos objetos de estudo têm implicações ideológicas. A sociedade deve ser chamada de “capitalista” ou de “industrial”? Ocorreu “proletarização”, “individualização” ou “atomização”? Cada caracterização dá início ao que Giddens (1970) chamou de dupla hermenêutica, uma interpretação da realidade com o potencial de entrar na vida social e retornar, afetando por sua vez as definições do intérprete.”.
É neste ponto que gostaria de insistir. Realizar análises, emitir opiniões ou, simplesmente, dizer o que acha sobre algo ou alguém é, inevitavelmente, correr riscos. A tão falada polarização presente na política, nas questões de gênero, nas análises e soluções de ordem econômica e por aí vai (e vai muito) inviabiliza a dúvida e a colaboração entre “verdades”, pois estas já se colocam como absolutas.
As dificuldades da classificação em relação aos fenômenos sociais e aos indivíduos, além dos cuidados que se impõem nos termos, palavras e frases, estes somam-se às singularidades dos interlocutores, geralmente já previamente inflamados. Diante deste quadro, ser discreto tem sido uma opção compreensível para evitar confusões. Uma decisão individual que pode gerar consequências no coletivo. E, assim, o pêndulo oscila novamente.