Bemdito

Bemdito: o agora

Como chegamos até aqui e, principalmente, o que nos motivou a embarcar no Bemdito em plena maré alta
POR Juliana Diniz

Como chegamos até aqui e, principalmente, o que nos motivou a embarcar no Bemdito em plena maré alta

Juliana Diniz
julianacdcampos@gmail.com

Três meses de Bemdito. Do lado de cá, uma pergunta permanece latente, a cada dia que acordamos para nos dedicar a uma nova “edição”: por que investir tanto tempo, energia e desejo em comunicação e jornalismo em 2021? Por que apostar na expressão e na palavra?

Não é uma pergunta sem razão de existir. Afinal de contas, já se tornou quase um lugar-comum reconhecer que o mundo padece de um período de sombra: caótico, adoecido e desorientado por projetos poderosos, dirigido para a erosão da democracia e para a dificuldade de construção de pontes e de consensos. É mais fácil e rápido desinformar do que apostar na informação com responsabilidade e credibilidade. Vale a pena seguir falando no deserto? A quem chegarão as garrafas que lançamos ao mar? Essas garrafas têm chegado aí?

Ao criar o Bemdito, apostamos numa crença quase ingênua, se considerarmos o cenário tão pouco favorável a quem se dedica a exercitar a crítica: a crença de que é possível acreditar na capacidade transformadora da expressão e, consequentemente, na sua força para agregar pessoas interessadas em valores e projetos comuns, na sua potência para inspirar novos ares e novos rumos.

Por mais perigoso que seja o jornalismo em 2021 – uma leva expressiva de perseguições e intimidações tem amedrontado quem se dedica à área no Brasil -, ele ainda parece ser a rota de fuga mais importante de que dispomos como alternativa à desordem e à infelicidade. O motivo é muito claro: a palavra tem força, tem poder, é mais incisiva do que a bala e o coturno.

Se pensarmos nisso, a iniciativa de construir um espaço para reunir vozes e amplificar seu alcance se torna um projeto interessante demais para que nos deixemos imobilizar pelo medo e pelo cansaço. Vamos exercitar nossa capacidade de expressão, convidando pessoas muito interessantes a fazer isso também? Foi o convite que fiz ao meu parceiro Jáder Santana quando o Bemdito era ainda pouco mais que um desejo.

Muitos passos foram percorridos de lá pra cá.

Para investir na nossa capacidade de nos expressar, foi preciso criar a nossa própria rota. Como conseguir fazer isso pelos caminhos que já existiam se os espaços tradicionais são muitas vezes inacessíveis ou resistentes a formatos, assuntos e presenças? Se a comunicação é tão pouco preocupada com representatividade e tão conformada pelo que já se tornou rotina? Seria impossível. Nós não nos reconheceríamos lá, e estaríamos sós.

Por isso, o Bemdito foi criado com a intenção de ser, desde a fundação, um espaço muito diverso, que pudesse aglutinar origens, interesses, estilos e realidades diferentes, mas igualmente instigantes, que se reforçassem mutuamente pelo simples fato de que estão reunidas, em diálogo, em parceria. A palavra, aquilo que é mais sagrado para nós, é o que nos investe de poder. Malditos ou benditos, todos nos sentimos dispostos a profanar os mais variados temas, sem preocupação de perder a benção fundamental que nos move: seu gesto de expressão é legítimo, vá em frente! Grite! Alguém lá fora haverá de ouvir.

Assim, reunimos uma trupe muito original de professores, artistas, pesquisadores, jornalistas, políticos, pessoas com a alma muito jovem e o espírito fresco para embarcar numa experiência de veículo mais horizontal, pouco preocupado com fronteiras rígidas. Todas essas pessoas são fundamentais para nós e a elas agradecemos a energia dedicada, o trabalho bem feito.

Ao acessar o Bemdito todas as manhãs, você pode encontrar qualquer tema, sem pudor, sem constrangimento. Literatura chinesa, suruba, disputa eleitoral, orçamento público, teatro, psicanálise, tudo, absolutamente tudo nos interessa e, desse caldo improvável de olhares individuais, mas plurais, gostamos de pensar que entregamos a cada dia um conteúdo bem cuidado, saboroso, que desperta apetites por mais, pelo inusitado, pelo diferente.

Temos uma atenção imensa com tudo que veiculamos. É um trabalho de edição que gosto de definir como “artesanal”: longe de sugerir amadorismo, a artesania indica que cuidamos com apuro no detalhe, pensamos com carinho nas palavras e nas formas, buscamos as melhores imagens, debatemos entre nós escolhas difíceis, celebramos cada mensagem carinhosa que chega na caixa de entrada.

Hoje entra no ar um novo layout para a nossa home e também para a nossa página de publicação. Mais leve, navegável, intuitivo. Como uma casa feita a muitas mãos, o nosso site vai se aperfeiçoando, encontrando sua melhor forma, num caminho que gostamos de compartilhar porque prova que o Bemdito é um bicho vivo, e a vida, um processo em permanente construção.

Estamos contentes, convidando você a celebrar conosco esses três primeiros meses de vida, a fazer parte da nossa casa, colaborar, dialogar, fazer junto, explorar as novidades que conquistamos. O Bemdito só faz sentido se for diverso e, para ser diverso, precisa ser feito por muitos, para todos.

Que o nosso caminho seja longo e que um número cada vez maior de pessoas acredite no slogan que lançamos hoje, para nos lembrar dos nossos propósitos e seguirmos fortes na missão: expressar é poder.

Juliana Diniz é editora executiva do Bemdito, professora da UFC e doutora em Direito pela USP. Está no Instagram e Twitter.

Juliana Diniz

Editora executiva do Bemdito. É professora do curso de Direito da UFC e Doutora em Direito pela USP, além de escritora. Publicou, entre outras obras, o romance Memória dos Ossos.