Diante do pior, deixemos as diferenças para depois
“A política não é o reino do altruísmo,
é um egoísmo inteligente, socializado e conflitual.”
André Comte-Sponville
Não existe príncipe encantado no amor nem candidato perfeito na política. As experiências individuais, as evidências históricas e o sistema político nos mostram isso. O messias que apareceu na arena da gestão pública, convenhamos, não deu muito certo.
Mas insistimos. Dizem que é da gente este lance de não desistir nunca. O problema que se coloca é justamente este: alguém vai ter de ceder para que as coisas mudem. Ceder e controlar a boca ou os dedos no teclado.
A esquerda, a direita (não esta da presidência), o centro, os ensaboados que se filiam às conveniências, todos querem o devido e “merecido” quinhão. Neste momento de partilha de poderes parece se desenhar outras linhas que não aquelas delimitadas pelos projetos políticos. São fronteiras que dividem apaixonados e pragmáticos enveredados.
De um lado, os que “só beijam por atração”. De outro, os “me diga quem eu preciso beijar a boca”. Enquanto isso, uma audiência, ocupada com a sobrevivência diária e o futuro completamente incerto, assiste ao encontro dos dois segmentos, calada ou silenciada pelo splish splash alheio. Mas eles e elas votam. São muitos. E podem voar ou garantir o voo das aves de mau agouro.
Caso haja urgência e necessidade – me parece o caso do Brasil aqui e agora – é melhor pensar estrategicamente e, principalmente, friamente. Uma conclusão óbvia, porém de dificílima aceitação, sobretudo às mentes apaixonadas. “O temperamento latino é fogo”, já diria Moreira da Silva. Se serve de consolo, um bocado de argentinos, franceses, americanos, por exemplo, também votaram com dedo tremendo e dentes trincados em diversas ocasiões.
Cá entre nós, não é de agora que optamos pelo menos pior para o Brasil. Portanto, é mais seguro não oferecer campo e quorum para o adversário devido às divergências que se fazem pequenas diante da catástrofe maior. Caso contrário, vai continuar tudo na mesma ou pior, “tá ok?”.