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Espelho, espelho meu

Estudo mostra que o narcisismo é fator de risco importante para agressão e violência
POR Yanna Guimarães
Narcissus (Caravaggio)

Estudo mostra que o narcisismo é fator de risco importante para agressão e violência

Yanna Guimarães
yannits@gmail.com

Quão insuportáveis as pessoas narcisistas são para você? Pois a partir de agora preste atenção ao seu comportamento com elas. Um estudo da Universidade Estadual de Ohio divulgado esta semana analisou 437 pesquisas em todo o mundo para confirmar: o narcisismo é um fator de risco importante para agressão e violência. Conforme os pesquisadores, a ligação entre narcisismo e agressão foi encontrada em todas as dimensões do narcisismo e em uma variedade de tipos de agressão. Os resultados foram semelhantes, independentemente do sexo, da idade, do fato de serem estudantes universitários ou não, ou do país em que moram.

E, para ter impacto, o narcisismo não precisa estar em níveis tão altos a ponto de ser patológico. Os resultados mostraram que, mesmo quando o narcisismo estava dentro do que é considerado uma faixa normal, ainda existia elevada associação à agressão. “É uma mensagem bastante direta: o narcisismo é um fator de risco significativo para o comportamento agressivo e violento em qualquer nível”, disse Brad Bushman, coautor do estudo e professor de comunicação da Universidade Estadual de Ohio. A pesquisa, liderada por Sophie Kjaervik, foi publicada no dia 24 de maio, na revista Psychological Bulletin.

Os pesquisadores combinaram e analisaram dados de vários estudos para fornecer uma visão abrangente dessa área de pesquisa. Foram examinados dados de 437 pesquisas independentes, com um total de 123.043 participantes. Bushman explica que o narcisismo é caracterizado por um senso exagerado de autoimportância, sendo seu principal componente o direito. O narcisismo também tem dois componentes periféricos: grandioso (aqueles com alta autoestima) e vulnerável (aqueles com baixa autoestima). O estudo descobriu que todos esses componentes estavam ligados à agressão.

E o narcisismo foi relacionado a todas as formas de agressão medidas nos estudos que os pesquisadores analisaram: física, verbal, bullying, direta ou indireta e deslocada para alvos inocentes. “Indivíduos com alto teor de narcisismo não são particularmente exigentes quando se trata de como atacam os outros”, disse Kjaervik. De acordo com os pesquisadores, essas pessoas não só tinham maior probabilidade de atacar com raiva, mas também eram mais propensas a ser “frias, deliberadas e proativas” em sua agressão.

Os resultados são consistentes com pesquisas que sugerem que o narcisismo pode ser um fator de risco para atos extremamente violentos, como fuzilamentos em massa. Um argumento, diz a pesquisa, poderia ser que o vínculo narcisismo-agressão seria mais provável de ocorrer em países individualistas, como os Estados Unidos, onde as pessoas enfatizam seus direitos pessoais. Mas a análise descobriu que narcisismo e agressão estavam relacionados até mesmo em países mais coletivistas.

E não se engane, esses resultados não se aplicam apenas a pessoas que são narcisistas. O estudo afirma que não se pode separar quem é narcisista e quem não é. Quase todo mundo tem algum grau de narcisismo, embora apenas uma minoria tenha níveis altos o suficiente para ser chamada de patológico. “Todos nós tendemos a ser mais agressivos quando somos mais narcisistas”, disse Bushman. Uma coisa que se destacou claramente na análise, segundo ele, foi como as pessoas com alto teor de narcisismo reagem quando se sentem ameaçadas.

“Nossos resultados sugerem que a provocação é um moderador chave da ligação entre narcisismo e agressão. Aqueles que são ricos em narcisismo têm pele fina e vão atacar se se sentirem ignorados ou desrespeitados”, conclui o pesquisador.

Pois bem, minha questão agora é: isso te faz lembrar de alguém? Talvez daquele líder de um certo gado. Mas é melhor evitar a violência e não dar nome ao bois.

Yanna Guimarães é jornalista e mestre em Comunicação de Ciência pela UNL. Está no Instagram.

Yanna Guimarães

Jornalista e mestre em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova de Lisboa.