Bemdito

Não tô mais com medo, tô com Pedro

Curte metragem Pedro oferece um passeio especial pela comunidade de Santa Filomena
POR Ivna Girão

“É preciso uma criança para cuidar de uma vila”. 

Escutei, recentemente, essa frase, dita por Lua Barros, um diálogo com um provérbio africano que versa exatamente o contrário – “é preciso uma vila inteira para criar uma criança”. E penso assim: sem a infância, não há aldeias possíveis. Vou mais além, não há uma Fortaleza imaginável sem Pedro. 

Pedro é o menino que nos convida a passear, por entre becos e vielas, pela comunidade Santa Filomena. E no dia 26 de fevereiro, às 18h, será lançado o curta-metragem Pedro, realizado e dirigido por Leo Silva. O filme terá sua primeira exibição ao ar livre, no Jangurussu, onde o filme foi rodado. O curta traz a história de uma infância passada, conectada a vivência do diretor, tentando mostrar, nas entrelinhas, um resgate histórico sobre a comunidade em que cresceu. 

A partir do olhar de “Pedro”, é possível acompanhar, no filme, seu trajeto diário, desde o jogo de videogame, até o momento em que “Dona Lívia”, personagem que faz a mãe do garoto, o pressiona para ir pra escola. A história é uma pequena lembrança do diretor Leo Silva, que é nascido e criado no Santa Filomena, “a proposta do curta é trazer, a partir da infância, um olhar sobre a comunidade, trazendo um leve resgate do que vivenciamos. No caso, o personagem principal, é referente a um amigo meu que já se foi”, diz. O curta é todo feito em conjunto com a comunidade, os personagens principais e figuração são pessoas dali, uma obra feita com o pé no chão, com o brincar na rua, com a amizade de bairro. 

Como canta a canção, “eu agora não tô mais com medo / Tô com Pedro / Eu agora já tô mais com Pedro / Do que com medo”, a obra traz o valor da vida em comunidade, a beleza de se estar em coletivo, mas revela também o medo da morte ou de “coisa parecida”, mostra o encontro, desde novo, com a bala e o tiro. É um filme que brinca na rua, que se senta na calçada, compra pão na budega, celebra a festa na quebrada, reúne a meninada para jogar bola no Campo do Curitiba, são os Meninos de Deus. 

Penso em Pedro, rezo por Pedro. Que ele já tenha se vacinado, que esteja na escola e consiga um dia de paz. Não é fácil a vida de Pedro, não é fácil a vida da infância que cresce na periferia, numa pandemia e num pandemônio. Sem acesso à educação, entre o tráfico e a bala, com dificuldade de acesso à saúde, ao transporte público, sem saneamento adequado, sem comer. Que bom que temos Leo que nos conta sobre Pedro e nos ensina a não termos medo. Um viva ao cinema feito na periferia, feito na marra, mas com beleza e coragem. É preciso um Pedro para cuidar de uma vila. Saiba mais sobre no instagram @pedrocurtametragem.

Ivna Girão

Jornalista, historiadora e escritora, é coordenadora de comunicação da Secretaria de Cultura do Ceará.