Bemdito

O superpedido de impeachment: as forças políticas se unem

O peso e a importância política do superpedido protocolado com 46 signatários
POR Juliana Diniz

Quando Jair Bolsonaro se elegeu em 2018, sabíamos que seriam anos extremos, mas jamais poderíamos imaginar que, em junho de 2021, subiriam ao palanque para pedir a deposição do presidente, unidos, políticos tão antagônicos quanto Kim Kataguiri, Gleisi Hoffmann, Joice Hasselmann, Alessandro Molon e Guilherme Boulos, para mencionar alguns dos mais célebres.

Essa coalização sui generis, fortalecida pela presença de diversas organizações da sociedade civil, protocolou um pedido de impeachment, o 124º a repousar sobre a mesa do presidente da Câmara dos Deputados. São 46 signatários da peça que apresenta uma síntese dos crimes de responsabilidade que teriam sido praticados pelo presidente Jair Bolsonaro durante seu mandato.

Sabemos que o impeachment não depende apenas da fundamentação jurídica, mas de uma conjunção de fatores que criam o ambiente propício para uma tempestade política perfeita. Desmantelamento da base parlamentar, deterioração econômica, queda significativa dos índices de aprovação popular do governo, clima generalizado de instabilidade que leve o presidente da Câmara a deflagrar o processo e maioria absoluta de dois terços da Casa para acolher o pedido, que segue para julgamento no Senado Federal.

A união das diferenças

Ao que tudo indica, a relação íntima entre Bolsonaro e a base parlamentar ligada ao Centrão, que lhe garante sobrevivência, segue firme, potencializada pela distribuição generosa de emendas para senadores e deputados. Se o presidente sobrevive graças à blindagem de sua base, é sempre tempo de perguntar: qual é o peso e a importância política do superpedido protocolado na última quarta? 

A resposta está na observação do palanque. Diante da imprensa, deputados e ativistas se alternaram no microfone, enfatizando a união apesar das diferenças. Mais do que detalhar as razões do impeachment, os signatários fizeram questão de ressaltar o fato de que estão dispostos a defender uma bandeira comum.

É provável que esse pedido tenha a mesma sorte dos demais – Arthur Lira não manifesta qualquer sinal de que tem sentido uma pressão acima do aceitável e já declarou que vai esperar o fim dos trabalhos da CPI, que devem se estender ao longo do segundo semestre, numa narrativa cada vez mais rocambolesca. Se a deposição não está no horizonte, restam, contudo, os efeitos indiretos do ato simbólico representado pela coalização anti-Bolsonaro: a deterioração sensível do capital do presidente e a desidratação da reeleição como possibilidade política.

Juliana Diniz

Editora executiva do Bemdito. É professora do curso de Direito da UFC e Doutora em Direito pela USP, além de escritora. Publicou, entre outras obras, o romance Memória dos Ossos.