Bemdito

Só Max Petterson salva

Ator e youtuber cearense é o único tratamento precoce que funciona, uma cloroquina eficaz
POR Mariana Marques

Ator e youtuber cearense é o único tratamento precoce que funciona, uma cloroquina eficaz

Mariana Marques
marianamarquesb@gmail.com

Flávio José, um conterrâneo nordestino, escreveu a máxima: “se avexe não, que amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada”. Sempre me identifiquei com esse dizer, mas depois de conviver com um negócio chamado RECORDE de morte, não tem pro tédio do não-acontecer.

A gente peleja, dia após dia, pra estabelecer uma certa normalidade, mas como é difícil, e pudera, acordar, escovar o dente, “pagar” o treino, comer. A não ser que você lembre de dar o play em Max Petterson.

Eu não gostaria nem de ter de apresentá-lo. Minha vontade era que você sentisse vergonha de não conhecê-lo e corresse pro pai dos burros digital. Mas não vá não, que eu explico. Não saia daqui, não.

Max é cearense de Farias Brito, ator, lindo de morrer, e foi parar em Paris pra estudar. Lá fez a vida. Pra mim, Paris é a cara dele, e ele ficou tão importante quanto a Torre, a Bastilha e os Jardins. Ela parece pequena (e finamente nordestina) nas mãos dele. Ele (e seu microcosmo) me salva todos os dias do choro, da desesperança, do desespero. Max é talvez o único tratamento precoce que funciona, uma cloroquina eficaz. Um dia (2017?) ele estourou na Internet, e desde aí, pra nossa sorte, não desiste de nós: uma audiência ávida por seu sotaque, suas histórias, suas besteiras, seu raciocínio mais que rápido, seus pinotes por Barbalha ou pela Cidade da Luz.

Onde há vida, há humor. E como tudo fica mais intenso em tempos de guerra, Max me aparece como o último a sair. Porque riso é democracia, e o contrário disso, a dureza e a dura seriedade, são autoritários. O riso contesta, luta, cria potência a partir da fantasia. É uma arma pronta, em nossa língua afiada, um grito encubado pronto pra respirar fartura no ar ambiente.

Só Max salva. Francês da Chapada do Araripe.

Termino lembrando que a coisa mais fina do Brasil é o Nordeste (e morando em Paris, neném, aí é que arreda). É do Nordeste que vem a maior fineza poética da oralidade, a culinária saborosa mesmo nos meses de estiagem, o encantamento com a chuva e qualquer ajuntamento de água, com o canto dos pássaros de manhã. Tudo isso pode ser acompanhado da troça, da mangação, do sabor do humor, da molecagem. E isso salvará a gente até em tempos de guerra, principalmente quando tudo pode ser transmitido pela tela. Tomara que, no fim do fim do mundo, a internet de Max seja a última a cair.

Mariana Marques é publicitária e artista plástica.

Mariana Marques

Publicitária e artista plástica.