Bemdito

Num trem para as estrelas

Com a retomada de atividades presenciais, o Planetário do Centro Dragão do Mar é mais uma opção que vale descobrir
POR Ivna Girão
Luiz Alves

Adoro repetir essa história: a primeira palavra que meu filho, Amaro, disse, não foi nem pai, nem mãe – foi Lua. O mais bonito disso não é a devoção astral, mas como o olhar dele brilha quando pronuncia, é quase um convite para orbitar por outros planetas. Até hoje, ele segue chamando o astro, num alvoroço de quem sabe o que procura, as estrelas são bússolas para o menino lunar. 

E, em tempos difíceis, com a fome assolando o mundo e entristecendo o peito e o estômago vazios, a vontade é de seguir Cazuza e embarcar, como diz a canção, “num trem pras estrelas”. 

Procurar esperanças e dignidades em outras paragens – está impossível viver por aqui, cada dia uma realidade mais dura de uma pandemia, de um pandemônio. Não é momento de abandonar o barco, eu sei, mas a vida está sendo tão maltratada, ou se constrói um novo jeito de fazer o mundo, ou se derruba todos os “podres poderes”. E “la nave va”. E vamos com ela buscar impossíveis, para não ter que repetir o refrão: “que a tristeza é uma maneira, da gente se salvar depois”.  

E para salvar o agora e adiar o fim do mundo, faço um convite: o Planetário Rubens de Azevedo retomou suas sessões presenciais. Com os protocolos de enfrentamento ao coronavírus, o espaço está reabrindo gradualmente, ao longo do mês de outubro, com cinco sessões. Um jeito bonito de botar poesias no peito, de encher os olhos de luzes e ativar o modo “avião” da cabeça. Aquela imagem bem cena de filme europeu: um homem ou uma mulher com uma dor, pegam sua elegância e passeiam por entre parques, museus, aquários e planetários, uma lembrança de que a vida em si não basta, precisamos da arte – e de estrelas e planetas – para nortear caminhos, alegrias. Como diz a letra em “Céu de Santo Amaro”: “Olho para o céu. Tantas estrelas dizendo da imensidão. Do universo em nós”. 

Dando continuidade à reabertura gradual dos espaços que integram o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, o Planetário Rubens de Azevedo, equipamento da Secretaria da Cultura do Ceará, reabriu ao público. Os ingressos custam R$ 6,00, a meia, e R$ 12,00, a inteira, e podem ser adquiridos por meio de compra antecipada no site: site.bileto.sympla.com.br/dragaodomar, além da bilheteria física no Dragão.   

A programação foi iniciada com a exibição das atividades “Viagem no Foguete de Papel”, “Astronomia Asteca: Entre o Espaço e o Tempo”, “Da Terra às Galáxias” e “A Luz e o Berço da Vida”, às 17h, 18h, 19h e 20h, respectivamente. A partir dessa semana, a agenda é ampliada, com sessões também às sextas-feiras, com as atividades “Viagem no Foguete de Papel”, às 18h, e “Visões do Cosmos”, às 19h. Também já podem ser agendadas visitas escolares, às terças e quintas para escolas públicas, e às quartas e sextas para escolas particulares. A solicitação de visitas pode ser feita por meio do endereço: planetario.cdmac@idm.org.br.

Vá ao Planetário. Se perca entre astros e ilusões, mas volte. Retorne ciente que o mundo não é apenas brilhante, é também a beleza-dura de Manoel de Barros em “O palhaço”, segue um trecho para ajudar a descer da espaçonave: “Gostava só de lixeiros, crianças e árvores. Arrastava na rua por uma corda uma estrela suja. Vinha pingando oceano! Todo estragado de azul”.

Mais informações: www.dragaodomar.org.br.

Ivna Girão

Jornalista, historiadora e escritora, é coordenadora de comunicação da Secretaria de Cultura do Ceará.