Bemdito

Em dias de temor pela democracia, vá ao Salão de Abril

Com exposição de 35 projetos, o 72º Salão de Abril segue aberto até o dia 16 de setembro
POR Ivna Girão
Ilustração: Charles Lessa

Em tempos de pandemia e de pandemônio, anota a dica. Se precisar sair de casa, troque a ida ao Shopping Center e vá visitar o 72º Salão de Abril. Escolha bem o seu passeio: evite os lugares fechados e lotados, vá em busca da arte que areja a alma e acalma o coração. Com máscara, álcool e distanciamento social, vá no caminho da cura e da ciência, cuide da saúde mental, procure o rumo das liberdades, fique bem acompanhado, permita-se uma tarde de encontro com quadros, pinturas e belezas, recomendo.

Troque o obscurantismo pela democracia, a cegueira pelo diálogo, a intolerância pela justiça. Procure cuidar do corpo e tome sua Dose 2, um banho de mar e depois tenha um encontro com a cultura. Visite o Centro Cultural Casa do Barão de Camocim, no centro da cidade, um dos lugares mais incríveis de Fortaleza. O Salão segue aberto até o dia 16 de setembro. 

O 72º Salão de Abril contemplou 35 projetos, número maior que o selecionado em edições anteriores. Outro destaque da edição é a curadoria inteiramente feminina, formada pelas profissionais Ana Cecília Soares (CE), Luise Malmaceda (SP) e Luciara Ribeiro (SP), que avaliaram cerca 221 obras de artistas inscritos.

Devido às restrições decorrentes da pandemia de Covid-19, o espaço de visitação foi adaptado para receber o público, cumprindo todas as regras de higiene, capacidade e distanciamento determinadas por decreto municipal. A edição de 2021 do Salão de Abril presta uma homenagem ao artista sobralense Raimundo Cela.

Obras

As obras expostas no 72º Salão de Abril são “Chá de cadeira”, de Ana Mundim (Fotografia); “Sob muitos sóis”, de Anie Barreto (Pintura), “Invenção do meu avô”, de Bruna Bortolotti e Gabrielle Tavares (Instalação); “Macho quer macho”, de Charles Lessa (Pintura); “Série Tecituras”, de Célio Celestino (Fotografia); “Ame as Deusas”, de Marcelina e Natalia Coehl (Registro da Intervenção Urbana); “Tanto Mar”, do Coletivo Ponto (Videoarte); “Armar uma rede”, de David Felício e Jorge Silvestre (Escultura); “Fantasma Hereditário – Trilogia Fantasma”, de Diego de Santos (Desenho); “Revista Capricha”, de Diego Landin e Yuri Marrocos (Colagem); “Assentamento”, de Eliana Amorim (Instalação); “Menu do dia ou um prato que se come frio”, de Eliézer (Colagem); “Álbum Preto”, de Felipe Camilo (Instalação/Livro de Artista); “Oxigênio”, de Fernanda Siebra (Fotografia); “Árvore-Lágrima”, de Fernando Jorge (Fotografia); “Eu-Não”, de Flávia Almeida, Hailla Krulicoski e Caio Erick (Videoarte); “XAXARÁ”, de George Ulysses Rodrigues de Sousa (Videoarte); “A margem de um rio que correm meus ancestrais”, de Iago Barreto Soares (Videoarte); “Indicador social para jardim”, de Jared Domício (Intervenção); “Corpografias em Contexto”, de Jefferson Skorupski (Videoarte); “Cena de Assassinato”, de João Paulo Duarte de Sousa (Performance); “Gaiola – Paisagem Interior”, de Juliana Saavedra Mendoza (Videoarte); “Jogo da Memória – Para não esquecer”, de Karl William (Instalação); “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa [1500-1822-1871-1888-1889-1932-1960-1964-2016-2018 e contando]”, de Lívio (Instalação); “Campo de Passagem’’”, de M Dias Preto (Instalação); “Dança para um futuro cego”, de Maria Macêdo (Videoperformance); “Corpo_Santo”, de Mario Sanders (Instalação); “Ecologia é poesia”, de Naiana Magalhães (Escultura); “Árido Brejo”, de Nataly Rocha (Videoarte); “Protótipo de inserção da experiência jangadeira no Brasil”, do coletivo No Barraco da Constância tem! (Instalação); “Cartossangrias”, de Núbia Agustinha (Instalação); “Nada pode ser feito até o tempo moderar”, de Samuel Tomé (Objeto); “As finas tramas que nos unem”, de Thaís de Campos (Fotografia); “Permitir o afeto – Viver o desejo – Esquecer o tempo”, de Victor Cavalcante (Instalação); e “Máquina de Costurar”, de Virginia Pinho (Fotografia).

Em dias de temor pela democracia, sugiro se aproximar das artes. Como patuá que nos protege das intolerâncias, o Salão de Abril é esse lugar gostoso de entrar e ficar, abre a mente e põe certezas no olhar, a afirmação de que cada artista, que ali fez sua montagem, estava em defesa de algo em comum: das liberdades, do senso crítico e do diálogo.

Enquanto tanques e canhões se armam nas ruas, sugiro subirmos outras trincheiras, a da valorização da cultura. E para adiar o fim do mundo, vamos todes, com máscara e distanciamento social, defender a vida, a ciência, vamos todes visitar o 72º Salão de Abril. 

Convite:

Exposição 72º Salão de Abril*
Até dia 16 de setembro
Horário de visitação: de terça a sexta-feira, das 10h às 17h, e no sábado, das 9h às 16h
Local: Centro Cultural Casa do Barão de Camocim (R. Gen. Sampaio, 1632 – Centro)
Gratuito
*Não é necessário agendar a visita

Ivna Girão

Jornalista, historiadora e escritora, é coordenadora de comunicação da Secretaria de Cultura do Ceará.