Para supender o céu
Uns dias sem escrever por aqui. E querendo voltar com grandes novidades. Mas o tempo não está para isso: em terras áridas, é celebrar o miúdo que vem brotar. E falo de pequenas alegrias para tentar “suspender o céu”, como diz Ailton Krenak: a Pilar, minha caçula de 2 meses, começou a sorrir; o Amaro, 1 ano, aprendeu o prazer de um gelado banho de bica quando a chuva cai, a Maria, 9, e o Bento, 11, receberam as primeiras doses da vacina, o meu pai, seu Nilton, segue hospitalizado, com Covid, mas está respondendo bem ao tratamento, minha mãe, Ivone, e meu marido, Ronaldo, também contraíram o vírus, mas testaram negativo recentemente. Ufa. E vocês, o que me contam de bom, que boas novas trazem para suspender o céu?
Contar histórias, cantar, dançar é suspender o céu, nos ensina Krenak em “Ideias para adiar o fim do mundo”. O indígena nos conta sobre a importância dos desejos e que os sonhos são o lugar da visão, uma outra casa que a gente pode morar, um lugar que se abre e onde, sim, é possível suspender o céu e tentar habitar uma morada além dessa terra dura, diz. Então, deixemos de coisa e cuidemos da vida, senão a época de chuvas acaba e a gente não se entrega à semeadura das alegrias. Por isso, venho contar aqui algumas notícias férteis como brotos de esperançar o roçado e deixar o céu bonito para sempre chover.
E para “adiar o fim do mundo”, divulgo uma campanha realizada pelo Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ), equipamento da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará) que fez “suspender o céu”. Trata-se do movimento #contratepessoastrans, trazendo indicações de uma turma massa, que trabalha com cultura, artes e várias outras áreas.
Então fica a dica: se você é empregador ou empregadora, lembre-se de que não basta apenas contratar pessoas trans, é necessário criar um ambiente no qual essas pessoas se sintam confortáveis e seguras, onde o respeito é garantido.
“Um dos maiores problemas enfrentados pelas pessoas trans é o fato de adesão de políticas de diversidade no mercado de trabalho. Ter uma fonte de renda, seja ela fixa ou freelancer, é essencial para a comunidade transgênera, tendo em vista que, na maioria dos casos, o apoio familiar não é uma opção válida”, informa a campanha.
E como indaga o jornalista Bruno de Castro em suas redes sociais, “uma travesti é minha favorita no BBB2, e agora?” – acabou a desculpa de “não sei o que fazer pra ajudar a causa trans”. Não é questão de só aceitar travestis, é também respeitar, é ofertar emprego, renda, dar amor, visibilidade, afeto. Torcer para a Linn da Quebrada é importante, mas você pode também: comprar livros de pessoas trans, ouvir músicas, se posicionar publicamente a favor de cotas para travestis, nunca chamar de “traveco”, não fazer piadas e na dúvida de como chamar, trate pelo seu nome. Para mais dicas, siga @pretojornalista.
Pensando o mundo assim, será que dá para suspender o céu?
Conheça as pessoas indicadas nessa primeira ação do movimento #contratepessoastrans:
Ellícia Maria é travesti, preta, cria de periferia, artista multidisciplinar trabalhando como atriz, performer, DJ, comunicadora e produtora, investiga em seus trabalhos as noções de corpo travesti e colonialismo.
Lure Furna é Técnico em Som, realizador e Produtor em Audiovisual, Preto Não Binárie Trans Masculine. Em 2019 assinou a Direção de Produção do curta-metragem “Banzo”, realizado de forma independente, com roteiro e direção de Rafael Luan.
Jô Costa é produtora Cultural Artista Travesti preta, educadora social, Coordenadora do coletivo Gueto Queen, Integrante também do maracatu nação bom jardim, jovens agentes de paz e fórum de Juventudes.
Caio Xavier tem 22 anos, é barbeiro, barman, garçom, artista de rua, poeta.
Stefany Mendes é travesti, periférica, Artista Multi-linguagem, Cantora, Compositora, Atriz, Performer, Figurinista, Produtora Cultural, Idealizadora do Coletivo Polo Trans, integrante da União Nacional LGBT (UNA) e o Fórum LGBT-Ce.
Joaquim Ferreira é professor de brasiliano, arte-educador, escritor, pesquisador de relações de gênero, sexualidade e raça presentes nas literaturas brasilianas, organizador do curso “Re-conhecendo as literaturas negro-brasilianas e produtor do Cine Descoberta.
Lua Margô é travesti, Terrorista da sociedade cis-gênera, desenhista, artista visual, e tatuadora da TigrasTattoo. Possui estúdio e projeto pessoal que transpassa outrS corpS, em sua maioria trans.
Lui é artista visual e desenvolve pesquisas sobre transmasculinidades, cybermorfologias imagéticas e germinação de vida dissidente. Trabalha como fotógrafo e videomaker desde 2018, atuando em ensaios, eventos, exposições artísticas, espetáculos, curta-metragem, documentário e experimentações imagéticas.
Saiba mais sobre movimento #contratepessoastrans aqui.