Bemdito

Reage, bota um cropped e vai

O exercício altera a química do cérebro para proteger as sinapses do envelhecimento, diz pesquisa
POR Yanna Guimarães

Durante o pior momento da minha vida até hoje – quando a doença da minha mãe atingiu sua fase final – foi o exercício que me salvou. Era naquela uma hora do dia, no meio do expediente, uma correria doida, quase não dando tempo. Mas era o único momento do dia que eu conseguia não pensar naquele turbilhão de sofrimento dela e nosso. Por isso, se eu puder indicar alguma resolução para 2022, de olhos fechados eu digo: procure uma atividade física com que você se identifique e apenas vá.

E não é só pelo bem-estar que, acredite, sempre vem depois de concluído o esforço. Um estudo da Universidade da Califórnia em São Francisco descobriu que o exercício altera a química do cérebro para proteger as sinapses do envelhecimento. Quando os idosos permanecem ativos, seus cérebros têm mais uma classe de proteínas que aumentam as conexões entre os neurônios para manter a cognição saudável. Esse impacto protetor foi encontrado mesmo em pessoas cujos cérebros na autópsia estavam repletos de proteínas tóxicas associadas à doença de Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas.

O projeto rastreou a atividade física no fim da vida de participantes idosos, que também concordaram em doar seus cérebros quando morressem. “Manter a integridade dessas conexões entre os neurônios pode ser vital para combater a demência, já que a sinapse é realmente o local onde a cognição acontece. A atividade física – uma ferramenta prontamente disponível – pode ajudar a impulsionar esse funcionamento sináptico”, explica Kaitlin Casaletto, principal autora do estudo publicado no Alzheimer’s & Dementia: The Journal of the Alzheimer’s Association.

Os pesquisadores descobriram que os idosos que se mantinham ativos apresentavam níveis mais elevados de proteínas que facilitam a troca de informações entre os neurônios. Esse resultado se encaixou com a descoberta anterior de que as pessoas que tinham mais dessas proteínas em seus cérebros quando morriam eram mais capazes de manter sua cognição no fim da vida. “Pode ser que a atividade física exerça um efeito de sustentação global, apoiando e estimulando a função saudável de proteínas que facilitam a transmissão sináptica por todo o cérebro”, detalha William Honer, professor de psiquiatria da University of British Columbia que participou do estudo atual e autor da pesquisa anterior. 

É difícil vencer a preguiça, a falta de tempo, o cansaço. Mas a sensação de que você conseguiu fazer é bem recompensadora. Coloca essa meta nas suas resoluções, mesmo que seja pra proteger as sinapses do seu cérebro! 

Yanna Guimarães

Jornalista e mestre em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova de Lisboa.