A resposta para todos os seus problemas

Dia de domingo, quando me sinto tão mofina quanto uma criança tímida no primeiro dia de aula, ouço mentalmente a ladainha da minha mãe:

– Tome um banho e vista uma camisola limpa.

Ela dizia isso pra qualquer situação. Da dor de ouvido à de cotovelo, da nota baixa à crise de ansiedade. Periga ela receitar a dupla de conselhos pra curar até Covid. Mesmo que você não sinta o cheiro da lavanda.

– Pois olhe, tenho uma ideia! – e eu já sabia: um banho e uma camisola limpa.

Vez ou outra, ainda pedia socorro e pedia, por favor, que ela inventasse outro conselho. Ela rodeava, conversava, tentava entender, mas tudo terminava, uma hora de conversa depois, com ela me conduzindo delicadamente ao banheiro e cutucando no armário a roupa de dormir que tivesse mais cheiro de amaciante misturado com gaveta.

Eu diria que 90% das vezes é tiro e queda, porque, afinal, quem precisa de Dr. House quando se tem Rita Marques? O simples ato de ritualizar, pausar, se dar o direito da água corrente, do frescor de estar de cabelo molhado, do direito a uma toalha, a uma roupa cheirosa e a uma lavanda já fazia efeito imediatamente. A dor podia nem passar, mas era uma dor muito mais elegante. A decepção amorosa poderia continuar a doer, mas o cheiro de lavanda Johnson abafava até o cheiro de chifre queimado. Aquele 3 em físico-química iria me render um mês inteiro de aula particular, mas quem tinha medo do colégio com o cabelo molhado, marcado pelos dentes do pente?

A verdade é que as mulheres da nossa família, por mais difíceis que sejam às vezes, detêm ensinamentos que nunca ficarão velhos. Tenho pensado nisso. Coitado “do papel” da Cagece, mas realmente não tem quase nada que substitua um banho elaborado nesta vida.

Gire o registro do chuveiro, deixe a água bater na nuca. Escolha a marca da sua alfazema e arroche. Capaz que o seu PCR baixe quando você terminar. Capaz de controlar o diabetes, suspender a metformina, o beta bloqueador e o ansiolítico. Duvidar mesmo, eu não duvido mais de nada.