Bemdito

Branquitude e a deturpação do racismo estrutural

Ser branco e saber que o racismo organiza e estrutura a sociedade é um chamado à ação individual
POR Izabel Accioly
A Brazilian family in Rio de Janeiro (Jean-Baptiste Debret)

Ser branco e saber que o racismo organiza e estrutura a sociedade é um chamado à ação individual

Izabel Accioly
mariaizabelaccioly@gmail.com

Nos últimos anos, o racismo tem sido pauta constante nos meios de comunicação, nas redes sociais, no debate público e até mesmo em reality shows. Nessas ocasiões, não raro emerge o termo racismo estrutural. A expressão ganhou popularidade a partir de 2018 com o lançamento do livro Racismo estrutural, do jurista Sílvio Almeida pela Coleção Feminismos Plurais. O sucesso certamente se deve à inegável competência do autor, seu rigor acadêmico e a visibilidade que a coleção alcançou ao oferecer livros acessíveis ao grande público.

Ainda que a recepção tenha sido muito boa, a branquitude se apressou em capturar o termo e empregá-lo de modo distorcido. Quando têm seu racismo apontado, alguns brancos justificam que a sua atitude é fruto do racismo estrutural. Ao dizer isso, buscam retirar de si a responsabilidade pelo ato racista e, ao mesmo tempo, culpar a estrutura, essa coisa invisível, que paira sobre a sociedade brasileira. Nessa perspectiva, o racismo torna-se uma mera fatalidade. Sabemos, entretanto, que os indivíduos têm capacidade de agência e, como afirma bell hooks, podem combater o racismo através de escolhas políticas.

Compreender que o racismo organiza e estrutura nossa sociedade não é um passe livre para que os indivíduos sejam racistas, pelo contrário: saber que o racismo é estrutural é um chamado à ação individual. A luta pelo fim do racismo exige que indivíduos que têm privilégios desnaturalizem sua posição de poder e ajam a partir deste entendimento no sentido de mover essas estruturas.

Izabel Accioly é antropóloga, professora e pesquisadora das temáticas de relações raciais e branquitude. Está no Twitter e no Instagram.

Izabel Accioly

Mestra em Antropologia Social pela UFScar, é pesquisadora do Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Relações de Poder, Conflitos e Socialidades da USP/UFScar.