Quando a verdade são muitas
Se estivesse diante de uma prova de múltipla escolha sobre a análise mais pertinente a respeito da invasão russa na Ucrânia, o mais informado marcaria, sem dúvida, a opção “e) Todas as alternativas estão corretas”. Difícil escolher uma verdade quando todas as afirmações parecem ter algum grau de sentido. E, para tornar ainda mais complexa a situação, depois da opção e), se apresentaria todo um alfabeto todo de opções. A prova não ficaria mais fácil se substituíssemos a múltipla escolha por um singelo V ou F.
A Rússia já planejava a invasão há anos. (V)
A OTAN e os EUA geraram esta guerra provocando os russos. (V)
A Ucrânia tem laços fortes com a Rússia e o presidente Zelensky mantém células neonazistas. (V)
A guerra começou na anexação da Crimeia. (V)
Os russos aproveitaram a fraqueza de Biden. (V)
Putin quer solidificar sua aliança com a China e quebrar o comando ocidental do mundo. (V)
E agora? Como roupas penduradas no cabideiro, agarre-se à verdade que lhe cabe.
Como se não bastassem as conjecturas sobre futuros possíveis e a exploração, às vezes conveniente, do passado, ainda há verdades do front e a guerra de discurso que ocorrem em tempo presente. Trato dos conteúdos das agências Associated Press, Reuters, etc, mesclando-se aos áudios e vídeos amadores daqueles que ocupam as trincheiras. Imagens de militares russos tendo mísseis sendo disparados ao fundo ou de soldado ucraniano em primeiro plano dançando para tranquilizar a filha que o aguarda em casa.
Não para por aqui.
O professor e a professora, pesquisadores de décadas sobre questões do leste europeu, finalmente e infelizmente “contemplados” pelos fatos, são acolhidos em espaços tanto na mídia de massa quanto nos meios especializados, mas hão de concorrer também com recém-chegados ao assunto, ávidos por compartilhar certezas nas redes sociais.
São tantas verdades que só nos resta a dúvida.