Bemdito

A dor e a glória do segundo casamento

A vida real dos casamentos fora do álbum do fotógrafo e as vantagens de se casar pela segunda vez
POR Mariana Marques
Foto: The Marriage Of Convenience (William Quiller Orchardson)

Pense num negócio que dura é o segundo casamento. A cristã, que já se separou uma vez, sabe que ninguém merece a sensação de quase-morte que o divórcio traz, por isso tenta até o fim evitar isso pela segunda. Até, se vir que o negócio não vai pra frente mesmo, se separar pela segunda vez.

A questão é que, como escapou da primeira, sabe que não vai morrer (apesar de a sensação ser próxima). Essa é, pois, a única vantagem da segunda separação, caso o segundo casamento não dure. Saber que escapará.

Minha vontade ao ouvir o discurso de alguém recém-separado é tacar o botão no PULA, ou dizer sem paciência: “minha fia, esse buraco só existe na sua cabeça”. Logo, logo você acorda de manhã descobrindo que não se afogou, pelo contrário, aprendeu a nadar borboleta no mar aberto, e que a vida começa dali. Uma parcialmente nova. E você vai receber um banho de colágeno e elastina e ficar pronta pro próximo tombo. Acredite em mim.

Até o mais seguro dos humanos fica mal quando se separa. A casa se parte no meio, você sonha com um aplicativo pra dividir os filhos até sair o papel do juiz, o povo fuça suas redes sociais atrás da foto de consorte, fofoca com prints em grupos de WhastApp dizendo: “mulher, só pode”, e você continua sem ter certeza do que gosta de comer, dos costumes que no fundo eram só seus, a cama casal padrão parece king size (e você ainda teve que dividir os lençóis de percal que sua mãe bordou) e cada baladinha pós-fossa parece piorar quando você vê a amostra do mercado para um futuro pretendente. (Meu conselho: viaje).

Até que um dia você começa a sentir raiva (mesmo que o pobre do ex ou da ex não tenha culpa), acolhe a raiva, vive a raiva, quebra umas canecas velha de porcelana e pronto. Ao apanhar os cacos, tem alguma réstia de vida que insiste em piscar, e você vai, sim, superar o luto. Dias de luta, dias de glória.

No segundo casamento, você já sabe que não são um só. Isso corrobora pra durar. No segundo casamento, não teve aquela besteira de jurar amar-te e respeitar-te todos os dias da minha vida (a igreja só deixa uma vez), então você já sabe que ninguém em sã consciência ama outro todos os dias da vida da pessoa. Se for assim, pode internar que endoidou. No segundo casamento, você normalmente controla melhor as expectativas e consegue lidar com frustrações que no primeiro não conseguiu. No segundo casamento, você já manda o marido pastar quando ele pergunta o que é a janta.

Mas calma: se você tá no primeiro casamento, não precisa se separar, certo? Faça outra festa na próxima semana e use as dicas deste texto. Qualquer coisa mande mudar o nome do marido ou troque ao menos de apelido. Vai que funciona.

O fundamento é não esquecer a lição:

– A parte boa de quem nunca se separou é que acha que vai tirar de letra, até consumar o fato e pensar que vai morrer. Sobrevive, e casa de novo.

– A parte boa de quem já se separou é que sabe que não vai morrer, mas evita até o último segundo ter que viver aquele perrengue de novo.

O desafio é decidir se vale a peleja. E saber que casamento bom é só no álbum do fotógrafo mesmo, ou no vídeo tocando SHE. Dia de segunda, no fim do mês, naquela noite bosta depois do trabalho, é castigo pra quem serviu miojo na Santa Ceia. A sorte é que a semana passa.